sexta-feira, 8 de abril de 2022

Rua Doutor Vauthier

   Em decorrência do recente movimento do Coletivo Memória Ativa quanto à correção das placas denominativas da Rua Ernesto Beck, faço esta postagem referente à Rua Doutor Vauthier, na Vila Belga. Ao longo dos seus 320 m que se estendem entre as ruas Manoel Ribas e Treze de Maio não há placas denominativas, mas o nome está erradamente escrito com “W” nos endereços da internet, no site de CEPs e no mapa do Google.

A denominação da rua é uma homenagem ao engenheiro belga

    Gustave Charles Vauthier com inicial “V”

    Ele nasceu no dia 11 de janeiro de 1861 em Bruxelas (Bélgica) e faleceu aos 62 anos, no dia 5 de abril de 1923 em Ponta Grossa, Paraná.

   

Eng. Gustave Charles Vauthier. Imagem obtida a partir de foto publicada na Revista Commemorativa do Centenário de Santa Maria 1914.

Era filho de um ilustre cidadão belga: Alfred Vauthier, que foi prefeito de Bruxelas, Doyen (Decano) da Faculdade de Direito da Université Libre de Bruxelles 1887, Presidente do Supremo Tribunal da Bélgica e Presidente da Ordem dos Advogados da Bélgica.

    Em 1884, Gustave Vauthier formou-se Ingénieur des ponts et chaussées (Engenheiro de pontes e estradas) na Universidade de Gent (Gante), cidade 60 km ao noroeste de Bruxelas. Gante (em neerlandês e alemão Gent, em francês Gand) é uma cidade belga, capital da província de Flandres Oriental.

A Universidade de Gante (em flamengo Universiteit Gent) é uma universidade pública da Bélgica, uma das maiores do país, com cerca de 32.000 alunos e 7.100 funcionários docentes e não docentes.

    Vauthier começou a trabalhar como engenheiro na Compagnie du Chemin de Fer du Grand Central Belge. Em 1887, passou à Compagnie du Congo pour le Commerce et l'Industrie e mudou-se para esse país aonde foi planejar o traçado da futura estrada de ferro Matadi-Léopoldville.

    As empresas belgas, Compagnie des Chemins de Fer Sud-Ouest Brésilien e a Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil trouxeram de 1891 a 1914 vários engenheiros e técnicos belgas, entre os quais Gustave Vauthier, para a construção e a gestão de estradas de ferro no Paraná e Rio Grande do Sul.

    Vauthier trabalhou para a Compagnie des Chemins de Fer Sud-Ouest Brésilien em Ponta Grossa (Paraná) onde conheceu sua esposa Maria da Conceição Ribas. O casal teve três filhas Suzanna, Helena, Alice e um filho, Alfredo.

Gustave Vauthier e Conceição Ribas Vauthier - foto arquivo da família

    O engenheiro Vauthier exerceu o cargo de diretor geral da  Compagnie Auxiliaire entre 1898 e 1910 e, num segundo período, entre 1919 a 1920. Ele radicou-se na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul onde a Compagnie montou seu centro de operações.

    Em 1905, Vauthier convidou seu cunhado Manuel Ribas, de Ponta Grossa, para gerenciar o armazém de fornecimento aos seus funcionários da ferrovia, o Économat. Manteve-se no cargo quando o Économat, obrigado a fechar por lei federal, foi assumido por Antonio Alves Ramos. O Armazém Ramos foi logo passado à Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea, após sua fundação em 1913. Desempenhou a função de gerente até 1920, e daí em diante como diretor geral. Em 1928 foi eleito intendente de Santa Maria que, em 1930, passou a denominar-se prefeito, função que ele ocupou até 1932, quando foi nomeado interventor no Paraná.

    Gustave Vauthier era figura conhecida e respeitada na sociedade local. Foi o idealizador e construtor da Vila Belga em Santa Maria. Também participou como consultor técnico da comissão construtora da nova igreja matriz Nossa Senhora da Conceição, em Santa Maria. Uma placa memorativa da comissão está afixada à entrada da hoje Catedral Metropolitana.

    Muitas vezes, o pessoal técnico e a infraestrutura da Compagnie foram postos à disposição da comunidade. Quando João Daudt Filho arrematou a demolição da antiga igreja (onde está o monumento Niederauer), em 1888, Vauthier mandou instalar uma ferrovia Decauville com vagonetas para transportar o material até a obra do Theatro Treze de Maio.

    Endereços

   Vauthier residia na Av. Rio Branco, no quarteirão entre as ruas Andradas e Silva Jardim, lado oeste, onde hoje está a agência do Banco Itaú, nº735.

À direita, a residência de Vauthier. Ao centro, o sobrado do médico Nicola Turi. Foto por volta de 1910.(acervo Casa de Memória Edmundo Cardoso)


    Em 1911, estava em construção sua nova residência, hoje preservada com o nome de “Casa Manoel Ribas”, na Av. Rio Branco, nº303. O cunhado do proprietário poderia ter ali residido quando Gustavo Vauthier mudou-se para Porto Alegre.

Residência construída por Vauthier, em 1911, hoje chamada "Casa Manoel Ribas".

  






   





 

Mudança

    Com a mudança dos escritórios da ferrovia para Porto Alegre, o diretor Gustave Vauthier transferiu-se para aquela cidade. Em 10.1.1913, acompanhado de sua esposa, seguiu em carro especial agregado ao trem de tabela.

    Na gare, ele recebeu as despedidas de extraordinário número de pessoas representativas de diversos setores, enquanto, em sua homenagem, tocava a banda musical do 7º Regimento.

    O ex-intendente Ramiro de Oliveira falou na ocasião, interpretando os sentimentos da sociedade, fazendo elogiosas referências àquele engenheiro e lamentando a sua retirada da cidade, terminando por erguer um “viva ao Dr. Vauthier”, sendo prolongadamente aplaudido.

    O Dr. Vauthier, visivelmente comovido, agradeceu àquela prova de apreço, dizendo que havia 22 anos que vivia em Santa Maria, o que remete sua chegada ao ano de 1891.  Disse que na cidade esteve “acompanhando o seu extraordinário desenvolvimento e assombroso progresso; e que aqui também havia passado os mais felizes anos de sua vida; que se retirava com profundo pesar, mas que não podia deixar de cumprir um dever superior que lhe impunha esse sacrifício enorme.”

    Vauthier  concluiu dizendo que “Santa Maria há de continuar a ser a terra das esperanças, sendo também de justiça que ela se desenvolva cada vez mais e que lá, onde vai residir, continuará a acompanhar o seu constante evoluir, e cooperará, no que estiver ao seu alcance, para a vida deste povo generoso.”

   O Eng. Vauthier manteve-se frente à Companhia até 1918, quando passou a ocupar o cargo de representante dos interesses belgas até a encampação definitiva da Auxiliaire pelo Estado do Rio Grande do Sul. Em 1920, passou a residir em Ponta Grossa, terra natal de sua esposa, onde faleceu em 5 de abril de 1923, aos 62 anos.

    Vauthier foi cônsul belga em Porto Alegre desde 1917.

    Em homenagem ao Eng. Gustave Vauthier, além da denominação de rua na Vila Belga, em Santa Maria, há em Cruz Alta, no Bairro Perpétuo Socorro, a Rua Doutor Wauthier também erradamente com “W” ao invés de “V”.

    No município de Dom Pedrito, na linha ferroviária Livramento-São Sebastião, foi inaugurada em 17 de fevereiro de 1923, a Estação Dr. Vauthier, dois meses antes do seu falecimento. Infelizmente, no final dos anos 1970, o ramal teve os trilhos retirados e a estação foi demolida.

    Na ausência de placas denominativas na rua da Vila Belga, é necessário afixá-las com o nome correto do homenageado: Rua Doutor Vauthier, com “V”.

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Fontes:

Arquivo pessoal

http://www.belgianclub.com.br/pt-br/creator/vauthier-gustave-1861-1923

Revista Commemorativa do Centenario de Santa Maria, 1914.

Casa de Memória Edmundo Cardoso

Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria: Diário do Interior, edições 3.2.1911, 3.7.1911 e 11.1.1913

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