sábado, 9 de julho de 2022

ILDEFONSO BRENNER (I)

   


 Recentemente, meu filho Sergio Leonardo Brenner leu em um site que Ildefonso Brenner foi ator no teatro amador e perguntou-me a respeito. Isso instigou-me a postar, em duas publicações, um resumido texto sobre meu avô materno.
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Ele nasceu em 13 de junho de 1862, primogênito do imigrante alemão Franz Karl Brenner, aqui chamado Carlos Brenner, e da santa-mariense Christiana Hofmeister, filha de Mathias Hofmeister, também imigrante alemão.

Tendo nascido no Dia de Santo Antonio, seus pais quiseram chamá-lo de Ildefonso Antonio, como se lê na anotação que o pai, Carlos, escreveu na folha de guarda de sua Bíblia luterana que recebera quando de sua confirmação na terra natal, Ellweiler, em 20.11.1845:

Ildefons Antonio Brenner geboren den 13 Junio 1862

    Franz Karl escreveu "Junio" misturando o Juni alemão com o junho português.

    Nas religiões cristãs, a Confirmação é o rito que complementa o Batismo, transformando as pessoas em membros plenos da comunidade, permitindo-lhes a participação na Eucaristia.

A data do nascimento consta no registro de batismo, em 24 de setembro do mesmo ano, feito pelo Padre Antonio Gomes Coelho do Valle, que omitiu o prenome Antonio. Filho de pai luterano e de mãe católica, Ildefonso foi batizado católico, até mesmo porque a Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria só seria fundada quatro anos depois.

A boa situação financeira de Carlos Brenner (Franz Karl Brenner, meu bisavô imigrante), obtida por seu trabalho, permitiu-lhe investir na educação dos filhos. Assim como as famílias luso-brasileiras abastadas, nas províncias, mandavam os filhos estudarem no Rio de Janeiro, na "Corte", como diziam, Carlos Brenner enviou seu primogênito, o jovem Ildefonso, para completar sua educação na Alemanha.

Carlos Brenner havia prosperado inicialmente com sua alfaiataria depois como comerciante, em Santa Maria. Era natural que ele desejasse que seu primogênito seguisse sua profissão. Carlos aprendera seu ofício de alfaiate em Porto Alegre, poucos anos após ter imigrado, ainda adolescente, mas ele queria para Ildefonso a melhor formação de que tinha notícia. Certamente, no decorrer de sua formação e de sua atividade profissional, ele tomara conhecimento da Academia Europeia de Moda, em Dresden. Essa escola técnica fora fundada em 1850, como Deutsche Akademie der Höheren Bekleidungskunst, Academia Alemã de Alta-Costura tornando-se, mais tarde, a famosa Europäischen Moden-Akademie, Academia Europeia de Moda. Os alunos aprendiam contabilidade, aritmética, letras, estilística, idiomas etc. e, principalmente, método de corte e feitio. Passavam por um treinamento técnico e científico para poder mais tarde alcançar a liderança de um negócio maior.

A Academia havia diplomados alunos da Alemanha, Suíça, Polônia, Rússia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica e França.  Em 1893, a Academia recebeu Medalha de Ouro na Feira Mundial de Chicago.   

 O jovem Ildefonso, com idade de 20 a 23 anos, permaneceu em Dresden, durante cerca de quatro anos, provavelmente entre 1880 e 1884. Formado em alfaiataria, voltou à sua cidade natal, mas nunca exerceu a profissão de seu pai. Entretanto, sua formação europeia e seu treinamento para assumir liderança foi útil para suas posições em Santa Maria. 


    Entre as referências materiais do período em que Ildefonso esteve na Alemanha, há um livro de Schiller, adquirido em Dresden, em 30 de março de 1884, conforme ele anotou na folha de guatda, sob sua assinatura. O livro é o nono volume de Schillers Sämtliche Werke (Obras Completas de Schiller), contendo pequenos trabalhos sobre História e algumas obras póstumas para teatro. 

Ildefonso tinha então 21 anos de idade. Dresden, chamada a “Florença do Elba”, era um importante centro de cultura da Europa, considerada uma das mais belas cidades do mundo. Sem alvos militares, desafortunadamente, foi a mais castigada pelos bombardeios norte-americanos e britânicos na Segunda Guerra, que atingiram cruel e extensamente a população civil, matando cerca de 25.000 pessoas. Nos bombardeios de 1945, foram destruídos 39 quilômetros quadrados do centro de Dresden.

Com a esperança de encontrar algum registro da passagem de meu avô pela Akademie, escrevi a instituições culturais de Dresden e recebi, em 20.3.2002, uma atenciosa mensagem de Heidrum Reim, historiadora do Dresdner Stadtmuseum. Frau Reim informou-me que edifício da Europäischen Moden-Akademie ficava em Dresden-Neustadt, na Nordstrasse, N. 20.    Nos bombardeios à noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945 foi destruído o edifício da Akademie com seu valioso Departamento de Biblioteca (Fachbibliothek) e a coleção de recursos pedagógicos.

Neustadt é um bairro central de Dresden, na margem direita do Rio Elbe. Apesar do nome (Neustadt é Cidade Nova), é a parte mais antiga da cidade, que se estende em maior área na margem esquerda, com antigos e novos bairros.

   A estada na pátria de seu pai possibilitou a Ildefonso aprimorar sua cultura e o conhecimento do idioma alemão: ele falava fluentemente o Hochdeutsch e citava Goethe de memória. Era considerado o homem culto da família. Hochdeutsch, é a denominação da variante oficial do idioma alemão, utilizada nas escolas, empresas e na mídia impressa. 

Deve ter sido, também, um período muito prazeroso, cujas lembranças o acompanharam por toda a vida. Lembro-me de tê-lo visto, várias vezes, na avançada idade de seus oitenta e poucos anos – eu então um menino de oito a dez anos –, certamente rememorando sua juventude em Dresden, ao benfazejo sol de inverno, que produzia profunda insolação na sala, onde hoje é a loja nº 1061, na Rua Dr. Bozano. Em sua cadeira de balanço, de costas para a sacada, entoava baixinho a valsa “Ja, dann woll’n wir noch einmal, woll’n wir noch einmal, Heirassassa, lustig sein, fröhlich sein Hopsassa.”, e outras canções alemãs.

 De 1881 a 1884, Ildefonso viveu em Dresden, chamada a “Florença do Elba” devido ao seu notável desenvolvimento cultural e artístico. O jovem de vinte e poucos anos aprimorou sua formação cultural.  

Apesar de sua formação em Dresden, Ildefonso não exerceu a profissão de seu pai. Como dizia minha avó Lydia, "ele jamais pegou uma tesoura de alfaiate." Mas seu treinamento na Europäischen Moden-Akademie o levou a posições de liderança.


Comerciante - Voltando da Europa, chegou a Santa Maria em junho de 1884. Assumiu a empresa de seu pai ou abriu sua casa comercial Brenner & Irmão que, em 1902, passou a ser Ildefonso Brenner & Cia., no sobrado da família, situado na esquina noroeste das ruas Dr. Bozano e Serafim Vallandro (foto acima).


               Na fachada do sobrado, a denominação da empresa, em foto de 1908.

Em 1925, fechou a casa comercial e abriu uma loja na esquina das ruas Venâncio Aires e Marquês do Herval, atual Serafim Vallandro, onde hoje há um templo da Assembleia de Deus. A loja chamava-se Depósito Brenner, onde passou a liquidar a grande quantidade da variada mercadoria que restara da anterior casa comercial. Mais de 10 anos depois, ainda anunciava, “a preço de liquidação”, diversos artigos como ferragens, máquinas, esquadrias, móveis, etc.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

ILDEFONSO BRENNER (II)

 

Política

Conselho Municipal – Em 6.11.1891, com 29 anos, Ildefonso Brenner foi eleito para o primeiro Conselho Municipal do período republicano, colegiado que substituía a Câmara de Vereadores do tempo do Império. O Conselho eleito era formado por Frederico Kessler, Astrogildo Cesar de Azevedo, João Daudt Filho, Ildefonso Brenner, Antonio Appel Filho e João Guilherme Weinmann. O Conselho reuniu-se em sessão preparatória no dia 20, quando é apresentado o projeto da Lei Orgânica.

Em 3 de dezembro, realizou-se a instalação do Conselho Municipal, tendo como presidente Frederico Kessler, e como secretário Ildefonso Brenner.

Durou pouco pois, em 23 de dezembro, resignaram os comissários-intendentes e todo o 1º Conselho Municipal. “por não reconhecerem a legitimidade do governo atual e visto achar-se completamente subvertido o regime legalmente constituído no Rio Grande do Sul.”      O citado governo era Junta Governativa gaúcha de 1891, uma tetrarquia (governo exercido de forma conjunta por quatro pessoas) que governou o estado do Rio Grande do Sul entre 1891 e 1892.  Era formada por Assis Brasil, Barros Cassal, Gen. Domingos Barreto Leite e Manoel Luiz Osório (não é o “legendário” Marquês do Herval). A Junta assumiu o governo do R.G.S. em 12 de novembro de 1891, após o golpe de estado de Deodoro da Fonseca. O Governador Júlio de Castilhos foi deposto, em 12.11.1891, por ter-se recusado a apoiar o golpe praticado por Deodoro da Fonseca, quando dissolveu o Congresso Nacional. A oposição chamava a Junta Governativa de "Governicho", diminutivo depreciativo de governo.

 

Atividade classista - Foi presidente, em 1914, da Praça do Comércio de Santa Maria. Foi novamente presidente, em 1924, quando a entidade denominava-se Associação Comercial de Santa Maria que, desde 2003, é a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria-CACISM.

Social - Em 5 de fevereiro de 1888, Ildefonso Brenner, aos 25 anos, foi eleito presidente do Clube Caixeiral, no segundo ano de sua fundação.

Participavam da diretoria meu avô paterno, Pedro Balduíno Brenner, 17 anos, e meus tios-avôs maternos Júlio Laydner, 17, e Júlio Brenner, 20 anos.

Em 28.9.1887, Ildefonso foi um dos fundadores do Clube de Atiradores Santamariense, entre os quais estava Jacob Ludwig Laydner que, 15 anos depois, se tornaria seu sogro.

Em 29.11.1936, como sócio mais antigo, Ildefonso Brenner presidiu a sessão solene referente aos 70 anos da Sociedade Beneficente Alemã, fundada em 28.10.1866 como Deutscher Hilfsverein que é hoje a Sociedade Concórdia Caça e Pesca-Socepe, com 156 anos de história.

Hospital - Em julho de 1898, foi um dos fundadores, como 1º secretário, da Sociedade de Caridade Santa-Mariense, precursora do Hospital de Caridade, do qual também foi fundador, em 24 de dezembro do mesmo ano, no mesmo cargo. Em 23.6.1901, a instituição tornou-se a Associação Protetora do Hospital de Caridade, que existe até hoje, da qual meu pai, Ennio Brenner, foi membro.

Teatro - João Daudt Filho, nascido em 1858, foi o primeiro farmacêutico natural de Santa Maria. Formou-se pela Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro, em 1877. Ele empreendeu a construção do Theatro Treze de Maio e organizou uma sociedade dramática da qual Ildefonso participou ativamente, na diretoria e como  ator amador.

Desde seus 26 anos, quando foi fundada a Sociedade Theatral Treze de Maio, em 1889, até sua extinção, em agosto de 1913, Ildefonso participou ativamente no teatro. Como tesoureiro, ele assinou o convite aos sócios, publicado no Diario do Interior, em 15 de novembro de 1912, para registrarem suas ações, devido à dissolução e liquidação amigável da sociedade.

Na segunda edição de suas Memórias, em 1938, João Daudt Filho, citando seus companheiros de representação teatral na sociedade dramática por ele criada, após a conclusão das obras do teatro, citou que só restava vivo Ildefonso Brenner, o que revela meu avô como um dos atores amadores dos primórdios do Theatro Treze de Maio. De fato, em 1938, meu avô tinha 76 anos de idade e viveu mais 13.

Fortes influências na formação de ambos os levaram à realização do importante empreendimento. Eles tinham experiências de vida em ambientes culturais de grandes cidades onde o teatro era uma atividade em destaque.

João Daudt Filho vivera no Rio de Janeiro como estudante de Farmácia, de 1877 a 81. Em suas Memórias, ele lembrou os espetáculos de ópera, no Teatro D. Pedro II que, com o advento da República, foi renomeado Teatro Lírico.

Ildefonso Brenner passara parte de sua juventude, entre 1881 e 1884, estudando em Dresden, na Alemanha, onde desenvolveu sua formação cultural. Chamada a "Florença no Elba" (Florenz an der Elbe) devido à semelhança entre as cidades - Dresden, na Saxônia e Florença, na Toscana - tanto na arquitetura quanto na paisagem urbana e por terem ambas uma secular história de extraordinária cultura e esplendor artístico. Dresden possuía, entre seus mais valiosos bens edificados a Ópera Semper (Semperoper), obra de Gottfried Semper, importante arquiteto alemão do século XIX. Teatro conhecido e certamente frequentado pelo jovem estudante Ildefonso.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Oscar Grau (conclusão)

Com subtítulos extraídos do manuscrito de Elsa Grau Lippold

De diversos cantos ele fez a música.

Fez uma valsa para o centenário de  Santa Maria.

A produção de Oscar Grau como compositor não se restringiu à marcha 28 de Março cuja partitura pertence ao acervo de seu neto, o Prof. Eros Roberto Grau. Supostamente, a marcha 28 de Março se referia ao jornal com esse nome do Clube Caixeiral Santa-Mariense, que remete à data da solene instalação de sua primeira sede, em 28 de março de 1886.

Pautas iniciais da Marcha 28 de Março
 Elsa conta que seu pai compôs a música para diversas canções do coral estudantil que ele organizara e do qual era regente, além de “uma valsa para o Centenário de Santa Maria”, em 1914. Creio que houve um equívoco: Oscar Grau compôs um hino para Santa Maria, no ano de seu centenário. Na verdade, o “falso centenário”, porque a cidade comemorou intensamente, em 1914, os 100 anos da abertura do Livro Tombo da matriz católica, no qual o primeiro pároco transcreveu a provisão que elevou Santa Maria a Capela Curada, em 21.1.1814. 

Tal ato não constituiu a fundação da cidade que, de fato, ocorrera pouco mais de 16 anos antes, em outubro ou novembro de 1797, com a instalação do acampamento da comissão portuguesa dos demarcadores de limites entre terras de Portugal e Espanha. Esse acampamento, no local onde hoje está a Praça Saldanha Marinho, gerou a povoação e deve ser considerado como fundação de Santa Maria.

O Hino de Santa Maria, composto por Oscar Grau, foi apresentado por um coral de estudantes, no descerramento de placa em homenagem “aos gloriosos fundadores”, referindo-se aos agentes da elevação a Capela Curada.
 

A placa (foto) foi afixada na fachada da torre sul da catedral onde ainda se encontra, pondo à vista pública, há 108 anos, um erro histórico.

O descerramento da placa foi noticiado pelo jornal A Federação, de Porto Alegre, na edição de 26.5.1914, página 8. O Diário do Interior, de Santa Maria, em notícia de 16.5.1914, revela que os estudantes locais estavam sendo ensaiados por Oscar Grau para cantarem o Hino Rio-Grandense, em desfile. Ambos os eventos foram parte do programa comemorativo do “falso centenário de fundação”.

Citei a atuação de Oscar Grau como regente em Os Cassel de Santa Maria..., p. 114, quando, nas comemorações do Dia da Independência, em 7.9.1916, ele regeu uma orquestra e um coral de estudantes do Colégio Elementar. Ele também era o regente de uma orquestra que se apresentava no Café Guarany, em frente à Praça Saldanha Marinho.

Trabalhou até poucos dias antes de falecer

O Professor Oscar Grau trabalhava intensamente. Além de sua atividade como professor de Música, maestro, técnico em pianos e pianista nas sessões de cinema mudo, era ativo integrante das associações locais de matriz cultural alemã: Deutscher Männergesangverein ‘Teutonia’, Turnverein Jahn e Lieder Kranz (Associação de Canto) fundada em1903. Essa talvez tenha sido a primeira em que ele atuou, aos 24 anos, organizando seu pi­quenique. O local escolhido foi o bosque junto ao Vacacaí-Mirim, possivelmente na chácara de 60 hectares de Peter Brenner, que era usada também por outras socieda­des, com fácil transporte por trem, a 3 km da estação.

Foto de Oscar Grau na
EMEF que tem o seu nome

Oscar Grau faleceu no dia 12 de junho de 1929, em sua residência à Praça Júlio de Castilhos, hoje Av. N. S.ra das Dores. Tinha apenas 50 anos de idade.

Escola

Uma justa homenagem foi prestada ao músico, compositor e professor que tanto contribuiu para a cultura santa-mariense, nos âmbitos musical e social. Seu nome foi dado a um estabelecimento público de ensino, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Oscar Grau, na Rua Ivorá, sub-bairro Vila Schirmer. Foi construída em terreno de 1.440 m², composto de quatro lotes doados pelos irmãos Paulo e Carlos Cassel, sobrinhos de Elvira, esposa do Prof. Oscar Grau.

Em 6.11.2004, a EMEF Oscar Grau realizou um programa em homenagem ao seu patrono, nos 126 anos de seu nascimento, ocorridos um mês antes. Estiveram presentes os filhos do Patrono Walter, Carlos e Werner Grau, com suas esposas; as filhas Elsa Grau Lippold e Edith Grau Souza; e, com sua esposa, o neto Prof. Dr. Eros Roberto Grau, na época Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Fontes:

Arquivo pessoal

Acervo do Prof. Eros Roberto Grau

Diário do Interior - ed. 16.5.1914 (Arquivo Hist. Mun. S.M.)

A Federação - ed. 26.5.1914

A Razão - ed. 6.11.2004

domingo, 24 de abril de 2022

 

Oscar Grau

Diário do Interior 17.1.1923
Tocava violino, flauta e violoncelo

Faltou citar piano, instrumento no qual Oscar Grau musicava as cenas do cinema mudo no Cine Teatro Coliseu, nos anos 1920. Era também o instrumento de sua outra faceta profissional: afinava, comprava, reformava e vendia pianos.  


Karl Wilhelm Grau
Recorte do Grupo Musical 1906

Oscar (violino) e seu irmão Karl Wilhelm (contrabaixo) participaram do Grupo Musical, um conjunto instrumental sob a regência do maestro Matheus Hoffmeister Calazans. Era composto de 17 figuras: piano, violoncelo, contrabaixo, violinos, flautas, clarinetes e bandolins. Em uma foto do Grupo Musical, de 1906, além dos irmãos Grau e do maestro são identificados Arthur Mergener, Conrado Hoffmann e Francisco Pereira.


Aqui lecionava música ... e   formou uma estudantina

Oscar Grau foi professor de Música no Colégio Elementar que teve origem no Colégio Distrital, em 1901, instalado num antigo casarão à Rua Cel. Niederauer. Lecionava música instrumental e canto coral. Com seus alunos e alunas do Colégio Elementar, o Prof. Oscar Grau formou uma estudantina, nome dado a um grupo de estudantes que executam músicas vocais ou instrumentais.

A revista Fon-Fon, edição nº26, de 24 de junho de 1916, publicou uma valiosa fotografia da estudantina do Prof. Oscar Grau. O grupo musical, postado junto à fachada lateral do Colégio Elementar, era uma orquestra de cordas composta por alunos e alunas com 19 figuras: 7 violinos, 8 bandolins, 2 cítaras, violoncelo e violão. O Prof. Oscar Grau está à esquerda, empunhando sua batuta de maestro. Fon-Fon era uma revista semanal fundada no Rio de Janeiro, que circulou de 1907 a 1958. Na época da foto, era liderada pelo poeta Mário Pederneiras, sendo diretor Álvaro Moreira e colaboradores Felipe d"Oliveira, Hermes Fontes, Olegário Mariano e Ronald de Carvalho. A foto foi obtida por Valter Noal Filho, em pesquisa na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional., 

O Colégio Elementar funcionava no antigo casarão que fora do Colégio Distrital, no local onde, em 1938, foi inaugurada a Escola Olavo Bilac, na Rua Coronel Niederauer.


Fontes:

Arquivo pessoal

Biblioteca Nacional – Hemeroteca digital (Valter Noal Filho).

Brenner, José Antonio. Os Cassel de Santa Maria-desde o Glantal

Fototeca da Casa de Memória Edmundo Cardso

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fon-fon

sábado, 23 de abril de 2022

Oscar Grau – Porto Alegre e Santa Maria

Depois em Porto Alegre, onde (Oscar Grau) estudou Música

Devem ter ficado por um curto período na Colônia Barão do Truinfo, pois creio terem vivido vários anos em Porto Alegre, durante os quais Oscar Grau completou sua formação em Música, conforme a anotação de Elsa Lippold. Certamente, não foi no Instituto de Bellas Artes do Rio Grande do Sul – atual Instituto de Artes da UFRGS – que foi fundado em 1908 e seu Departamento de Música no ano seguinte.

No final do século XIX havia em Porto Alegre intensa atividade musical em organizações como a Sociedade Filarmônica Porto-Alegrense (1878), o Instituto Musical Porto-Alegrense (1896), logo transformado em Club Haydn (1897), além de várias estudantinas e bandas musicais.

O principal objetivo dessas sociedades de concertos era apromoção cultural e recreativa. Vários de seus integrantes ministravam aulas particulares de instrumentos musicais.[1]

Oscar Grau pode ter completado e aprimorado sua formação musical como aluno nessas aulas

particulares, durante o período em que a família permaneceu em Porto Alegre.

Flajolete

Em Porto Alegre, Oscar exerceu sua profissão de músico. Uma foto em estúdio da capital, no final da década de 1890, junto com um violinista, o jovem Oscar Grau, supostamente com 18 anos, porta um instrumento de sopro. Segundo o professor Gérson Werlang, do Departamento de Música da UFSM, trata-se de um flajolete, de rara
ocorrência no Brasil. Essa raridade é um indicativo de que Oscar teria trazido o instrumento quando imigrou, seis anos antes, e que, portanto, já estudara Música em sua terra natal.

O flajolé ou flajolete (do francês flageolet) é um instrumento de sopro da família das flautas. 

Flajolete - Catálogo 1900 de New York Jeweler

O fato de os músicos terem ido a um estúdio fotográfico para posarem com seus instrumentos é indício de que formavam um dueto e, possivelmente, se apresentavam em recitais ou em cafés e restaurantes, como era usual.

Talvez esse período tenha sido de uns sete anos, pois é possível que a mudança para Santa Maria tenha ocorrido na passagem do século.

Alguns anos mais tarde veio para Santa Maria  

Revisão equivocada

Quanto à migração para Santa Maria, há um absurdo erro de revisão no livro acima citado, onde está escrito, à p. 113, “entre fim do século XVIII e início do XIX”. Em meu texto original, eu havia adotado números arábicos, seguindo uma tendência em jornalismo, para tornar o texto mais acessível aos leitores não afeitos aos números romanos. Mas a revisora da Editora/UFSM converteu todas as citações de séculos para números romanos, atendendo à norma da instituição. Nessa conversão cometeu os erros.

Eis, então, o texto correto:

Em data não conhecida, entre o fim do século XIX e início do século XX, August Oskar, seus pais, seu irmão Karl e suas duas irmãs mudaram-se para Santa Maria.

Casou-se com Elvira Cassel

Na nova cidade, Oscar trabalhou, inicialmente como torneiro de madeira. Em 9.4.1904, aos 25 anos, casou com Elvira Cassel, 20 anos, filha de Carlos Cassel e Auguste Wihelmine Brenner Cassel.

Oscar Grau e Elvira Cassel Grau com seus dois primeiros
 filhos Elsa com 2,5 anos e Walter com 1 anos de idade.
  

Tiveram oito filhos: Elsa, a primogênita, autora do manuscrito que orienta parte deste trabalho, Walter, Erwin, Gerda, Carlos Júlio, Werner, Augusto Otto e Edith. O penúltimo filho, Augusto, faleceu com três anos de idade.



Fontes:

Arquivo pessoal

BRENNER, José Antonio - Os Cassel de Santa Maria-desde o Glantal. Ed.UFSM, 2010.

Prof. Gerson Werlang - Dep. Música/UFSM

[1] http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv12/01/conservatorio_belasartes_riograndedosul.html#nota1

Família Grau – Imigração

  

Trechos do manuscrito de Elsa Grau Lippold compõem os subtítulos em itálico a seguir.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Família Grau – Antes da emigração II

Ofensa ao Kaiser

Karl I - Rei de
Württemberg 1864-1891
A história oral familiar conta que Hieronymus Grau precisou emigrar porque teria ofendido o Kaiser, publicamente, em uma taverna. Súdito do Reino de Württemberg, é possível que Hieronymus tenha proclamado sua indignação ao saber que o Rei da Prússia, Wilhelm I, se tornara Imperador de todos os estados germânicos,
inclusive Württemberg. Há a possibilidade de ele ter dirigido a ofensa também a Karl I, Rei de Württemberg, sob cuja liderança esse reino integrou o Império Alemão. Homossexual, Karl I foi protagonista de vários escândalos devido ao seu envolvimento com alguns homens.

Périplo

Um indicativo de que tal afronta tenha ocorrido foi a sucessiva mudança de Hironymus e sua famílias para várias cidades no Reino de Württemberg e no Grão-Ducado de Baden, entre 1871 e 1890, até seguirem para Hamburg, onde embarcaram para o Brasil. Estaria o chefe da família Grau se eximindo de alguma ação punitiva durante quase 20 anos?

O mapa mostra, em sequência de 1 a 5, as cidades onde viveu a família Grau antes da emigração. Foi determinada pelos registros de casamento do casal e de nascimento de vários filhos, obtidos em recente pesquisa de Karin Grau-Kuntz, trineta do genearca Julius Hieronymus Grau.

Datas e Locais

Julius Hieronymus n. 2.4.1841 cc 31.8.1869 Pauline n. 12.3.1843 Schorndorf            Reutlingen

Filhos                     nascim.                     local

Julius                      possiv. 1870-71        ?

Marie                       22.9.1874                Stuttgart – Bairro Gablendorf

                               Marie f. 18.11.1874      

Albert                     1875                         ?

Karl Wilhelm          27.2.1877                 Ravensburg

August Oskar          30.10.1878               Freiburg im Breisgau

Paula                      ?.?.1881                    ?

Clara                       ?.?.1882                    ?

Wilhelm Alfred      17.7.1885                 Stuttgart - Ludwigstraße 51

Hugo Alfred           7.8.1890                   Hamburg (f.antes de 5.10.1890)

 A família Grau embarcou em Hamburg, no navio Bahia, que partiu em 5.10.1890 e chegou ao Rio de Janeiro no dia 29 do mesmo mês. O navio pertencia à Hamburg Süd, fundada em 1871 como sucessora da Hamburg-Brasilianischen Dampfschiffartz-Geselschaft. Talvez isso explique a denominação.

Antes da viagem, os Grau ficaram algum tempo em Hamburg, pois ali nasceu, em 7.8.1890, dois meses antes do embarque, Hugo Alfred Grau, filho de Julius Hieronymus e Pauline. A criança certamente faleceu com pouco tempo de vida, pois seu nome não consta na lista de passageiros.

Trecho ref. à família Grau da lista de passageiros do navio Bahia, obtida no Staatsarchiv Hamburg



quarta-feira, 20 de abril de 2022

Família Grau

 

Elsa Grau Lippold aos 37 anos
Alguns de nossos antepassados sentiram a necessidade de anotar informações básicas sobre a história da família. Tais anotações, mesmo que resumidas, tornam-se valiosas para a descendência conhecer fatos e feitos de seus antecessores familiares.

Assim fez Elsa Grau Lippold quando, em um manuscrito de 19 linhas, em uma folha de 20 x 20 cm, registrou importantes dados sobre seu pai, August Oskar Grau. A anotação não está datada, mas foi escrita após o falecimento de Erwin Grau, ocorrido em
22.1.1947.            

Ronaldo Lippold, quando de sua mudança para o Bairro Camobi, em Santa Maria, encontrou o manuscrito de sua mãe e, em 6.3.2014, visitou-me, trazendo o documento, que serve de fio condutor para as postagens Família Grau.

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Período anterior à emigração

De início, é preciso narrar parte da história da família na terra natal, com base em dados genealógicos obtidos em  recente pesquisa de Karin Grau-Kuntz, filha do Prof. Eros Roberto Grau. Após Mestrado e Doutorado em Direito pela Ludwig Maximilian Universität, ela fixou-se em Munique, onde constituiu família. É coordenadora acadêmica e pesquisadora na Alemanha (Estudos Europeus) do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual. 

 Reutlingen

O marceneiro Julius Hieronymus Grau nasceu em 2.4.1841, em Reutlingen, 31 km ao sul Stuttgart, a capital do Reino de Württemberg. Em 31.8.1869, ele casou com Pauline Johanne Hettinger, nascida em 12.3.1843, em Schorndorf, 50 km ao nordeste da cidade do noivo. Reutlingen tinha então cerca de 13.000 habitantes e atualmente tem 115.000. Estabelecida sobre antigo assentamento celta dos séculos VI e IV a.C., Reutlingen foi mencionada pela primeira vez em documento no ano 1089.

Reutlingen - A torre com seu portão (Tübinger Tor) foi construída em 1235, como parte da muralha. Foi ampliada em 1330 com um andar em enxaimel. Tem 36 metros de altura. 

Na época do casamento, a Europa vivia em guerras. Primeiramente, houve a Guerra dos Ducados na qual a Prússia enfrentou a Dinamarca e invadiu os Ducados de Schleswig e de Holstein, em 1864. Em seguida, ocorreu a Guerra Austro-Prussiana, em 1866, contra os austríacos e, por fim, houve a Guerra Franco-Prussiana, em 1870-71. Após a derrota da França, foi consolidada a unificação germânica.

Unificação da Alemanha

Kaiser Wilhelm I
Até então, não havia a Alemanha como nação. A região germânica era formada por 39 estados soberanos: reinos, grão-ducados, ducados, principados e cidades hanseáticas. Havia entre eles grandes diferenças quanto ao poder econômico, militar e à extensão territorial, mas tinham a mesma base cultural. Além do idioma comum, havia a aliança aduaneira (der Zollverein) com liberdade alfandegária entre as fronteiras, o que facilitava o comércio e os processos industriais, excluindo o Império Austríaco, que era rival do Reino da Prússia.

Após os três conflitos entre grandes nações europeias, acima citados, a unificação alemã foi estabelecida no dia 18 de janeiro de 1871, na Galeria dos Espelhos do Palácio Varsalhes, quando os príncipes dos estados alemães proclamaram o Rei da Prússia, Wilhelm I, como Imperador. 

Surgiu assim o Império Alemão (Deutsches Reich), e o Imperador Wilhelm I recebeu o título de Kaiser, antes usado por imperadores do Sacro Império Romano-Germânico (962-1806). O nome Kaiser tinha origem no latim Cæsar, referente ao imperador romano Júlio Cesar (49 a.C e 45 a.C.).

Fontes:

Arquivo pessoal

Pesquisa de Karin Grau-Kuntz (Munique)

Díario do Interior

A Federação

Wikipedia


sexta-feira, 8 de abril de 2022

Rua Doutor Vauthier

   Em decorrência do recente movimento do Coletivo Memória Ativa quanto à correção das placas denominativas da Rua Ernesto Beck, faço esta postagem referente à Rua Doutor Vauthier, na Vila Belga. Ao longo dos seus 320 m que se estendem entre as ruas Manoel Ribas e Treze de Maio não há placas denominativas, mas o nome está erradamente escrito com “W” nos endereços da internet, no site de CEPs e no mapa do Google.

A denominação da rua é uma homenagem ao engenheiro belga

    Gustave Charles Vauthier com inicial “V”

    Ele nasceu no dia 11 de janeiro de 1861 em Bruxelas (Bélgica) e faleceu aos 62 anos, no dia 5 de abril de 1923 em Ponta Grossa, Paraná.

   

Eng. Gustave Charles Vauthier. Imagem obtida a partir de foto publicada na Revista Commemorativa do Centenário de Santa Maria 1914.

Era filho de um ilustre cidadão belga: Alfred Vauthier, que foi prefeito de Bruxelas, Doyen (Decano) da Faculdade de Direito da Université Libre de Bruxelles 1887, Presidente do Supremo Tribunal da Bélgica e Presidente da Ordem dos Advogados da Bélgica.

    Em 1884, Gustave Vauthier formou-se Ingénieur des ponts et chaussées (Engenheiro de pontes e estradas) na Universidade de Gent (Gante), cidade 60 km ao noroeste de Bruxelas. Gante (em neerlandês e alemão Gent, em francês Gand) é uma cidade belga, capital da província de Flandres Oriental.

A Universidade de Gante (em flamengo Universiteit Gent) é uma universidade pública da Bélgica, uma das maiores do país, com cerca de 32.000 alunos e 7.100 funcionários docentes e não docentes.

    Vauthier começou a trabalhar como engenheiro na Compagnie du Chemin de Fer du Grand Central Belge. Em 1887, passou à Compagnie du Congo pour le Commerce et l'Industrie e mudou-se para esse país aonde foi planejar o traçado da futura estrada de ferro Matadi-Léopoldville.

    As empresas belgas, Compagnie des Chemins de Fer Sud-Ouest Brésilien e a Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil trouxeram de 1891 a 1914 vários engenheiros e técnicos belgas, entre os quais Gustave Vauthier, para a construção e a gestão de estradas de ferro no Paraná e Rio Grande do Sul.

    Vauthier trabalhou para a Compagnie des Chemins de Fer Sud-Ouest Brésilien em Ponta Grossa (Paraná) onde conheceu sua esposa Maria da Conceição Ribas. O casal teve três filhas Suzanna, Helena, Alice e um filho, Alfredo.

Gustave Vauthier e Conceição Ribas Vauthier - foto arquivo da família

    O engenheiro Vauthier exerceu o cargo de diretor geral da  Compagnie Auxiliaire entre 1898 e 1910 e, num segundo período, entre 1919 a 1920. Ele radicou-se na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul onde a Compagnie montou seu centro de operações.

    Em 1905, Vauthier convidou seu cunhado Manuel Ribas, de Ponta Grossa, para gerenciar o armazém de fornecimento aos seus funcionários da ferrovia, o Économat. Manteve-se no cargo quando o Économat, obrigado a fechar por lei federal, foi assumido por Antonio Alves Ramos. O Armazém Ramos foi logo passado à Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea, após sua fundação em 1913. Desempenhou a função de gerente até 1920, e daí em diante como diretor geral. Em 1928 foi eleito intendente de Santa Maria que, em 1930, passou a denominar-se prefeito, função que ele ocupou até 1932, quando foi nomeado interventor no Paraná.

    Gustave Vauthier era figura conhecida e respeitada na sociedade local. Foi o idealizador e construtor da Vila Belga em Santa Maria. Também participou como consultor técnico da comissão construtora da nova igreja matriz Nossa Senhora da Conceição, em Santa Maria. Uma placa memorativa da comissão está afixada à entrada da hoje Catedral Metropolitana.