segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O casamento de Franz Karl Brenner - Há 157 anos


   Franz Karl Brenner, meu bisavô materno, nasceu em 17 de setembro de 1831, em Ellweiler, uma aldeia no Principado de Birkenfeld/Hunsrück. Tinha 14 anos quando emigrou para o Brasil, junto com seu irmão Johann Jakob e suas irmãs Anna Philippina, e Catharina, casada com Jakob Cullmann.
   Franz Karl já adotara somente o prenome Karl, em sua terra natal, conforme assinou na Bíblia que recebera no ato de sua confirmação, em 1845. 

   Ele ficou pouco mais de dois anos em São Leopoldo, junto à família da irmã Catharina. Em 1849, aos 18 anos, já residia em Porto Alegre, como aprendiz de um alfaiate, na Rua da Praia. Nove anos depois, em 1858, mudou-se para Santa Maria.
Franz Karl Brenner
   Karl Brenner tinha 27 anos, quando chegou à vila santa-mariense, então com 2.900 habitantes, na área urbana, recém-emancipada de Cachoeira. Estabeleceu-se como alfaiate, profissão importante na época, que lhe garantiu prosperidade em alguns anos de trabalho. Passou a ser chamado Carlos Brenner. Segundo Astrogildo de Azevedo,[1] ele “era estimado de todos, exerceu por muitos anos a profissão de alfaiate, que lhe proporcionou velhice abastada”.
   Tornou-se amigo do alemão Peter Cassel, seu colega de profissão, 24 anos mais velho. Cassel era um dos principais líderes dos alemães evangélicos locais, que então se organizavam para fundar sua comunidade. Ele era padrinho de batismo de Christiana Hoffmeister, nascida na vila, filha do ferreiro alemão Mathias Hoffmeister, depois conhecido como Matheus. A ferraria ficava na Rua Pacífica, atual 2ª Quadra da Dr. Bozano, mais ou menos onde hoje está a Casa Eny.

    Casamento, em 10 de setembro de 1861
   Assim, Carlos Brenner conheceu Christiana e, três anos após sua chegada a Santa Maria, faltando uma semana para completar 30 anos, ela casou com a jovem, então uma adolescente de 17 anos.
1ª Igreja catélica de S. Maria.
Des. de autor desconhecido
   A Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria somente foi fundada em 1866, por isso Christiana, de família luterana, fora batizada católica. Assim, na falta da igreja dos noivos, o casamento foi celebrado, em 10 de setembro de 1861, uma terça-feira, na primitiva e singela igreja católica de Santa Maria, situada no local correspondente hoje à extremidade sul do canteiro central da Avenida Rio Branco, onde está o monumento ao Cel. Niederauer. 
   Ficava de frente para um terreiro cheio de barrancos de terra vermelha, cobertos de macegas, chamado, na época, de Praça da da Matriz e, desde 1883, Praça Saldanha Marinho.[1] A pequena igreja foi demolida em 1888, porque suas paredes ameaçavam ruir.
Livro de nºs 2 e 3 de Casamenotos - Igreja Matriz de Santa Maria

   Peter Cassel, que já fora padrinho de batismo de Christiana, foi testemunha do casamento, assim como, mais tarde, foi padrinho de batismo de Júlio, quarto filho do casal. Também foi testemunha João Daudt, nascido em S. Leopoldo, filho do genearca Johannes Daudt, imigrado em 1826.
   Vê-se que o Vigário Antonio Gomes Coelho do Valle admitiu a declaração do noivo de que ele era “natural e baptizado n’Alemanha”, sem questionar a religião.
  Carlos Brenner era membro contribuinte da Deutsche Evangelische Gemeinde, a Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria. Em 6.8.1882, ele assinou a ata da assembleia que elegeu Friedrich Pechmann para pastor,[1] que também foi assinada por Matheus Hoffmeister, Supostamente, Carlos Brenner e seu sogro foram fundadores da Comunidade.
Capela do Divino - Santa Maria
   A história oral familiar conta que, aos domingos, o casal saía da residência, na Rua do Comércio (atual Dr. Bozano), e se separava: Carlos descia a rua e ia ao culto dominical na Igreja Evangélica Alemã, inaugurada em 1873; e Christiana subia a mesma rua para assistir a missa na primitiva Igreja Matriz, até 1888, e depois na Capela do Divino, na esquina sudoeste da Av. Rio Branco com Rua dos Andradas, que serviu de Matriz por 21 anos, até a conclusão da nova igreja, a atual Catedral, em 1909.  
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[1]Conforme Livro de Registro da Eleição de Pastores do Culto Protestante, folha 29 verso,  na Secretaria do Governo da Provincia, em Porto Alegre. - Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. 


[1]Conforme Livro de Registro da Eleição de Pastores do Culto Protestante, folha 29 verso,  na Secretaria do Governo da Provincia, em Porto Alegre. - Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.



[1] Somente em 1904, praça recebeu uma calçada no perímetro, e foi inaugurada , com seu 1º tratamento paisagístico, em 15.11.1906.


[1] AZEVEDO, Astrogildo de. Os Allemães em Santa Maria, In: Revista Commemorativa do Centenario de Santa Maria, 1914,

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Crônica da chuva - há 85 anos

 As quadras e o pequeno pavilhão social do Avenida Tênis Clube, eram importantes espaços para convívio social e esportivo de jovens santa-marienses, nas primeiras décadas do século XX. O clube estava então instalado na Praça da República, na área hoje ocupada pelo Corpo de Bombeiros.
Nos anos 30, as alegres tardes de jogos e as reuniões dançantes cumpriam a finalidade que fora desejada pelas fundadoras, em 1917.
Uma crônica publicada no Diario do Interior, em 2.9.1933, sábado, assinada com o pseudônimo de “Nicia”, revela sentimentos de frustração e desalento durante quatro dias de chuva. Assim como hoje, neste domingo de 2.9.2018, exatamente 85 anos depois.
Nicia lamenta não poder usar sua nova raquete e cita o tênis como o “esporte de Borotra”. Referia-se a Jean Robert Borotra, o tenista francês campeão de Wimbledon, em 1924 e 1926, do Open da Austrália, em 1928, e de Roland Garros, em 1931.

A seguir, culpa São Pedro e revela-se jovem, comparando a velhice do guardião das portas dos céus e das chuvas com sua juventude. Declara-se saudosa das alegres tardes de jogos, nas quadras do Avenida Tênis Clube.

Termina sua crônica comunicando que, com a releitura de O Tênis, de Décio Ferraz Alvim, estaria pronta para desafiar as jovens tenistas do A.T.C.:
Clelia Nieves, que Nicia descreveu em crônica posterior:
... pele morena, cabelos negros e crespos, olhos da mesma cor, melancólicos; faz recordar as belas andaluzas.
Boca pequena e lábios róseos, sempre prontos a mostrar uma fileira de lindas pérolas.
Uma covinha, bela e original covinha, que só aparece quando ela sorri aquele sorriso moço e são de suas encantadoras primaveras. E como faz bem a nós, já velhos, aquela mocidade alegre e desenvolta.
Amelinha Pereira, que seria coroada a 2 ª Rainha do A.T.C., no ano seguinte, em 28.7.1934.
Clelia Nieves, Amelinha Pereira e Elisa Pereira

Norma Seibel
Herta Puhlmann, tenista e pianista, que escrevera a partitura do Hino do A.T.C., composto, meses antes, por seu irmão Horst Puhlmann.
Elisa Pereira, muito ativa nos jogos e na diretoria, foi bem votada para a 1ª rainha do clube.
Nicia conclui citando a “excelsa e querida Rainha”, Norma Seibel, a 1ª Rainha do A.T.C., eleita por votação dos associados e coroada em 4 de julho daquele ano.

Mas quem era Nicia? Naquela época, eram frequentes as crônicas referentes ao tênis, no Diario do Interior. Eram assinadas por cronistas sob diversos pseudônimos: Smash, Drive, Marrecão, Fundo, Rod, Joel, Nicia, Pythoniza, Sinhasinha. Não identifiquei Nicia, mas suspeito que era um pseudônimo partilhado por um homem e uma mulher.

Nas citações acima, Nicia ora se diz "ansiosa", esperando o sol, e “socada aqui, neste ermo” e anuncia que desafiará as tenistas, chamando-as “campeãs”; ora proclama, referindo-se à mocidade alegre e desenvolta de Clelia, “como faz bem a nós, já velhos”.