No
ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a
eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival
beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro
jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão.
O Avenida Tênis Clube teve seu primeiro e único
hino, composto em 1933, com música de Horst
Walter Puhlmann e letra de Lamartine Souza.
O médico Lamartine Souza, campeão do clube, desde 1920, era
então vice-presidente e atuava, desde 1922, na Diretoria Executiva e no
Conselho Fiscal. Era homem de vasta formação cultural, especialmente no âmbito da literatura.
Horst Walter Puhlmann |
Horst Puhlmann nasceu em Santa Maria, em 1912, filho de
Alfredo Puhlmann, natural de Santa Cruz e aqui estabelecido, desde 1911, após formar-se
em odontologia, em Berlim.
Horst começou a jogar tênis, em meados de 1930, no Santa Maria Tênis Clube, na Rua Silva
Jardim, entre as ruas Serafim Vallandro e Duque de Caxias. Esse clube surgiu de
uma dissidência no Avenida Tênis Clube, que levou um importante grupo de sócios
a se demitirem e fundarem a nova associação, em 9.11.1929. Entre eles, Mimi
Philbert, vice-presidente, Ginette Turi, principal tenista, e Aracy Azevedo, uma
das fundadoras e ex-presidente do A.T.C.
Dr. Lamartine Souza, autor da letra. |
Na época, o A.T.C. teve suas atividades esportivas suspensas
por mais de um ano, com a
desocupação da Praça do Mercado (Saturnino de Brito), imposta pela Intendência
Municipal, devido às obras de saneamento básico. Em 21.6.1931, inaugurou novas
instalações na Praça da República, com três quadras, onde o jogo voltou a ser
intensamente praticado.
Três meses depois, em 20.9.1931, o Avenida Tênis Clube
recebeu em sua sede o Santa Maria Tênis Clube, para um torneio, uma iniciativa
do clube anfitrião para estabelecer boas relações com o coirmão local.
O jovem Horst Puhlmann, com 19 anos, era o principal tenista
do clube visitante e foi a maior revelação do torneio. Jogou contra Ennio
Brenner, 24, então vice-campeão do A.T.C., perdendo por 6x1, 3x6 e 6x1.
Referindo-se ao torneio, o Diario do Interior, em 29.9.1931, destacou o desempenho de Horst. |
Desejando ingressar no A.T.C. e sendo proposto para
associar-se, Horst já jogava nas quadras do clube em agosto de 1932, sendo
admitido como sócio, na sessão de diretoria, em 3.9.1932.
Sob o pseudônimo de Drive, o cronista do tênis comemorou a aquisição de Horst, no Diario do Interior, em 11.8.1932. |
Horst Puhlmann, contabilista de profissão, era um habilidoso
pianista. Não tinha conhecimentos teóricos de música, mas com uma reconhecida aptidão
natural, "tocava de ouvido", com muito talento. Na mesma época em que ele se
tornou sócio do A.T.C., o clube adquiriu um piano no qual Horst revelava suas
habilidades musicais, animando as frequentes reuniões realizadas no pavilhão social. Em 1933, o entusiasmo geral para a realização do festival
artístico em beneficio do clube, quando seria coroada sua rainha, animou o
jovem músico a compor o hino do A.T.C.
Partitura do Hino do A.T.C., com a observação "incompleto". |
Na edição do Diario do Interior de terça-feira seguinte, o cronista que assinava
“Fundo” atribui uma “capacidade prefulgente” a Horst. Comenta
que em pouco tempo o “novel compositor escreveu uma linda ‘marcha de guerra’
para o A.T.C.” acreditando que ele se inspirara “no seu próprio estilo tenístico
violento, para depois, na defensiva, entrar numa fase mais calma.”
O cronista revela, a seguir, a
importante participação de Herta Puhlmann, irmã de Horst.
Diario do Interior, terça-feira, 23.5.1933, 1ª página. |
Quando encontrei a letra do hino, publicada no Diario do Interior, na edição de 1.7.33,
entrei em contato com a Prof.ª Herta, na esperança de que ela tivesse a
partitura. Contou-me então que Horst compusera o hino e, como ele não conhecia
a técnica, ela escrevera na pauta as notas musicais. Herta Thea Puhlmann era
professora de inglês, no Colégio Centenário, onde seria diretora, de 1966 a 1980.
Em sua homenagem, o prédio do Colégio Centenário destinado à pré-escola foi
denominado, em 1972, “Edifício Herta Puhlmann Chagas. Ela era também apreciada pianista,
tendo se apresentado em concertos, na cidade.
Na edição de 1.7.1933, sábado, o Diario do Interior publicou a letra do hino do A.T.C. que seria "cantado em seu próximo festival, por um grupo de moças da nossa sociedade."
Pelas tardes bonitas
de sol,
Exaltando a alegria
da vida,
Num ambiente de elite
e de escol.
Há encanto que não se
descreve,
Que impressiona, mas
que não se diz
Numa frase sutil,
fina, breve,
Ou num drive em que
se foi feliz.
Coro:
Lá no “Avenida” tudo
é lindo;
Nosso clube é sem
rival.
Vamos pra frente,
alegres, rindo,
Porque a vitória é
sempre do mais jovial.
A raquete é sinal de
lealdade,
De nobreza, de ritmo,
de tom.
Faz pensar numa
felicidade,
Na ventura de ser
belo e bom.
Branca e azul é nossa
bandeira,
Pavilhão todo cheio
de glórias.
Branca e azul,
tremulando altaneira,
Com orgulho de nossas
vitórias.
Edith Stellfeld (E) e Herta Puhlmann, na inauguração da quadra do Colégio Centenário. _______ |
Em 1º de setembro de 2002, domingo, Herta me telefonou, informando que achara a partitura. No dia seguinte, eu a visitei em seu
apartamento nº 403, no Edificio Pimenta, à Rua Dr.
Bozano, 729, levando a letra do hino, escrita por Lamartine Souza. Ela
então sentou-se ao piano e tocou o hino do A.T.C. composto por seu irmão,
enquanto ambos cantamos a letra. Música e letra se ajustaram na primeira estrofe, mas
não na sequência.
Em 11.9.1935, o Colégio Centenário inaugurou uma quadra de tênis onde Herta Puhlmann também passou a jogar. Entre as tenistas do Centenário estava a aluna interna Edith Stellfeld, de Livramento, com quem Horst Puhlmann casou, em 1940.
O hino foi apresentado ao público no festival de coroação
da rainha e em benefício do Avenida Tênis Clube, no Cine Independência, cantado
por um coro de ateceanos, em 4.7.1933.
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Fontes:
Livro nº1 de atas do ATC.
Diario do Interior, S. Maria, hemerotecas do Arquivo Histórico Municipal e da Casa de Memória Edmundo Cardoso.
Acervo José Antonio Brenner.
Acervo família Puhlmann.
Fontes:
Livro nº1 de atas do ATC.
Diario do Interior, S. Maria, hemerotecas do Arquivo Histórico Municipal e da Casa de Memória Edmundo Cardoso.
Acervo José Antonio Brenner.
Acervo família Puhlmann.
3 comentários:
Que belo resgate. Mais uma vez PARABÉNS.
Esta pesquisa e muito linda. Maravilhosa. Parabens. Quem morou na casa, na esquina Rua Acampamento com Dr. Turi??? Abraços. Helio
Segundo informação do Dr. Eduardo Rolim,naquela esquina estava a residência de Horst Puhlmann e sua esposa Edith Stellfeld Puhlmann.
Obrigado por apreciar, Cowboy.
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