sexta-feira, 8 de julho de 2022

ILDEFONSO BRENNER (II)

 

Política

Conselho Municipal – Em 6.11.1891, com 29 anos, Ildefonso Brenner foi eleito para o primeiro Conselho Municipal do período republicano, colegiado que substituía a Câmara de Vereadores do tempo do Império. O Conselho eleito era formado por Frederico Kessler, Astrogildo Cesar de Azevedo, João Daudt Filho, Ildefonso Brenner, Antonio Appel Filho e João Guilherme Weinmann. O Conselho reuniu-se em sessão preparatória no dia 20, quando é apresentado o projeto da Lei Orgânica.

Em 3 de dezembro, realizou-se a instalação do Conselho Municipal, tendo como presidente Frederico Kessler, e como secretário Ildefonso Brenner.

Durou pouco pois, em 23 de dezembro, resignaram os comissários-intendentes e todo o 1º Conselho Municipal. “por não reconhecerem a legitimidade do governo atual e visto achar-se completamente subvertido o regime legalmente constituído no Rio Grande do Sul.”      O citado governo era Junta Governativa gaúcha de 1891, uma tetrarquia (governo exercido de forma conjunta por quatro pessoas) que governou o estado do Rio Grande do Sul entre 1891 e 1892.  Era formada por Assis Brasil, Barros Cassal, Gen. Domingos Barreto Leite e Manoel Luiz Osório (não é o “legendário” Marquês do Herval). A Junta assumiu o governo do R.G.S. em 12 de novembro de 1891, após o golpe de estado de Deodoro da Fonseca. O Governador Júlio de Castilhos foi deposto, em 12.11.1891, por ter-se recusado a apoiar o golpe praticado por Deodoro da Fonseca, quando dissolveu o Congresso Nacional. A oposição chamava a Junta Governativa de "Governicho", diminutivo depreciativo de governo.

 

Atividade classista - Foi presidente, em 1914, da Praça do Comércio de Santa Maria. Foi novamente presidente, em 1924, quando a entidade denominava-se Associação Comercial de Santa Maria que, desde 2003, é a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria-CACISM.

Social - Em 5 de fevereiro de 1888, Ildefonso Brenner, aos 25 anos, foi eleito presidente do Clube Caixeiral, no segundo ano de sua fundação.

Participavam da diretoria meu avô paterno, Pedro Balduíno Brenner, 17 anos, e meus tios-avôs maternos Júlio Laydner, 17, e Júlio Brenner, 20 anos.

Em 28.9.1887, Ildefonso foi um dos fundadores do Clube de Atiradores Santamariense, entre os quais estava Jacob Ludwig Laydner que, 15 anos depois, se tornaria seu sogro.

Em 29.11.1936, como sócio mais antigo, Ildefonso Brenner presidiu a sessão solene referente aos 70 anos da Sociedade Beneficente Alemã, fundada em 28.10.1866 como Deutscher Hilfsverein que é hoje a Sociedade Concórdia Caça e Pesca-Socepe, com 156 anos de história.

Hospital - Em julho de 1898, foi um dos fundadores, como 1º secretário, da Sociedade de Caridade Santa-Mariense, precursora do Hospital de Caridade, do qual também foi fundador, em 24 de dezembro do mesmo ano, no mesmo cargo. Em 23.6.1901, a instituição tornou-se a Associação Protetora do Hospital de Caridade, que existe até hoje, da qual meu pai, Ennio Brenner, foi membro.

Teatro - João Daudt Filho, nascido em 1858, foi o primeiro farmacêutico natural de Santa Maria. Formou-se pela Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro, em 1877. Ele empreendeu a construção do Theatro Treze de Maio e organizou uma sociedade dramática da qual Ildefonso participou ativamente, na diretoria e como  ator amador.

Desde seus 26 anos, quando foi fundada a Sociedade Theatral Treze de Maio, em 1889, até sua extinção, em agosto de 1913, Ildefonso participou ativamente no teatro. Como tesoureiro, ele assinou o convite aos sócios, publicado no Diario do Interior, em 15 de novembro de 1912, para registrarem suas ações, devido à dissolução e liquidação amigável da sociedade.

Na segunda edição de suas Memórias, em 1938, João Daudt Filho, citando seus companheiros de representação teatral na sociedade dramática por ele criada, após a conclusão das obras do teatro, citou que só restava vivo Ildefonso Brenner, o que revela meu avô como um dos atores amadores dos primórdios do Theatro Treze de Maio. De fato, em 1938, meu avô tinha 76 anos de idade e viveu mais 13.

Fortes influências na formação de ambos os levaram à realização do importante empreendimento. Eles tinham experiências de vida em ambientes culturais de grandes cidades onde o teatro era uma atividade em destaque.

João Daudt Filho vivera no Rio de Janeiro como estudante de Farmácia, de 1877 a 81. Em suas Memórias, ele lembrou os espetáculos de ópera, no Teatro D. Pedro II que, com o advento da República, foi renomeado Teatro Lírico.

Ildefonso Brenner passara parte de sua juventude, entre 1881 e 1884, estudando em Dresden, na Alemanha, onde desenvolveu sua formação cultural. Chamada a "Florença no Elba" (Florenz an der Elbe) devido à semelhança entre as cidades - Dresden, na Saxônia e Florença, na Toscana - tanto na arquitetura quanto na paisagem urbana e por terem ambas uma secular história de extraordinária cultura e esplendor artístico. Dresden possuía, entre seus mais valiosos bens edificados a Ópera Semper (Semperoper), obra de Gottfried Semper, importante arquiteto alemão do século XIX. Teatro conhecido e certamente frequentado pelo jovem estudante Ildefonso.

Europäischen Moden Akademie, Nordstrasse 20, Dresden.

Essas vivências, sem dúvidas, causaram forte influência nos dois amigos para, para com outros companheiros, fundarem a Sociedade Theatral Treze de Maio. Na extinção da sociedade, Ildefonso Brenner assinou como tesoureiro o convite aos acionistas, publicado no Diário do Interior.

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Lydia em foto de João Bosque
Lydia 

Em 1901, um grupo de moças santa-marienses fundou a Nova Aurora, sociedade feminina organizada para promover bailes e festas. Lydia Laydner era uma das fundadoras da sociedade que não tinha sede própria. Usava o Clube Caixeiral em sua primeira sede própria, inaugurada em 22.9.1897, na Rua Floriano Peixoto, onde hoje está o edifício da UFSM.

Lydia era a última dos oito filhos e filhas de Jacob Ludwig Laydner e Maria Luíza Niederauer Laydner. Nascera em 10.10.1874, na casa de sua família à Rua do Comércio nº 59, hoje Rua Dr. Bozano nº 1065, edificação que, em parte, habito.

Certamente já se conheciam: a residência Laydner ficava a 60 metros da casa comercial de Ildefonso Brenner, na então pequena Santa Maria de 14.000 habitantes. Mas as atividades de ambas as sociedades, na mesma edificação, com Ildefonso na presidência do Caixeiral e Lydia na presidência da Nova Aurora os aproximou.

A assembléia geral da Nova Aurora, em 13.7.1902  elegeu Lydia Laydner Brenner como presidente, cargo que ela ocupou nos 16 anos seguintes.

 


Casamento – Ildefonso Brenner apreciava a vida de solteiro. Em O Combatente, então jornal do Clube Caixeiral, na edição de 17.6.1888, o redator manifesta a expectativa de que o presidente do clube estaria casado, no ano seguinte. Esperança frustrada: Ildefonso só casaria 14 anos depois, em 7.5.1902, com Lydia Laydner. No mês seguinte, ele completaria 40 anos.

 Os padrinhos do noivo eram o casal formado por seu cunhado Antonio Alves Ramos e sua irmã Etelvina Brenner Ramos. Da noiva, o cunhado Oscar Haensel, casado com sua irmã Anna Júlia; seu irmão Júlio Laydner; e seu sobrinho Henrique, filho de sua irmã Sophia casada com o médico alemão Heinrich Alfred Julius Grave.

A viagem de núpcias, certamente, tinha Montevidéu como destino. A capital uruguaia era o porto de embarque para as viagens à Europa, para a compra de mercadorias europeias, recursos médicos, etc.  Então, na época do casamento, o caminho a Montevidéu era feito por ferrovia a Bagé, de onde um serviço de diligências transportava os viajantes por 160 km a Livramento. De Rivera, seguiam por ferrovia a Montevidéu. Somesnte oito anos depois, Antonio Alves Ramos  construiria a ferrovia até Santana do Livramento.

A lua de mel durou cerca de um mês, pois o retorno do casal foi noticiado por O Combatente, em 12.6.1902.

Onze meses depois, em 10 de abril de 1903, nascia Maria Luíza Brenner (minha mãe), filha única do casal.

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 Ildefonso Brenner faleceu em sua casa, no dia 10 de abril de 1951, com avançada idade, faltando dois meses para completar 89 anos.

 

Um comentário:

Décio Schons disse...

Parabéns, Professor. Texto completo e agradável de ler. Excelente serviço prestado, não só à memória de sua Família, como também à história de nossa querida Santa Maria.
Um forte abraço.