sábado, 7 de agosto de 2021

Mais que centenários (1)

Quem vive na mesma casa desde que nasceu, convive com objetos que pertenceram aos seus bisavós, avós e pais, por isso muito ligados à história da família. É o meu caso. Aqui nasci há 87 anos, na casa construída por meu bisavô materno, Jacob Ludwig Laydner, em 1853, na então Rua do Comércio, atual 2ª Quadra da Rua Dr. Bozano, nº 1065. Vivi em outros lugares somente nos cinco anos quando estudante no Curso de Arquitetura da UFRGS, em Porto Alegre.

Presente de casamento

Inicio esta série de postagens com um conjunto de taças de cristal Baccarat. Não são os objetos mais antigos na casa, mas são mais que centenários. O jogo de taças foi um presente de casamento recebido por meus avós maternos Ildefonso Brenner e Lydia Laydner Brenner, em 7 de maio de 1902, há 119 anos. O casamento, celebrado nesta mesma casa, foi noticiado por O Combatente, antigo jornal de Santa Maria, em 8.5.1902: 



Ildefonso era comerciante, e faltavam 37 dias para ele completar 40 anos. Lydia tinha 28 anos e era a filha mais jovem dos donos da casa, o ourives alemão Jacob Ludwig Laydner e sua esposa Maria Luiza Niederauer Laydner.

Padrinhos do noivo: Antonio Alves Ramos, empresário da construção de ferrovias, e sua esposa Etelvina Brenner Ramos, irmã de Ildefonso. Padrinhos de Lydia: seu cunhado Oscar Hasslocher Haensel (com um "s"), 39 anos, comerciante em Porto Alegre, casado com Anna Julia, irmã de Lydia.  Oscar era filho do deputado Friedrich Haensel, executado pela polícia castilhista, em 1.11.1892, no preâmbulo da Revolução Federalista; Julio Laydner, três anos mais velho, era o irmão com quem ela tinha mais afinidade; e Henrique Grave, seu sobrinho, filho do médico alemão Heinrich Alfred Julius Grave e de Sofia, irmã da noiva, 19 mais velha.

Cristal Baccarat

São chamados de cristais os vidros de elevada transparência e qualidade. A história dos cristais Baccarat começou em 1775, na pequena cidade desse nome, na região de Lorena, nordeste da França. Naquele ano, o rei Luiz XV determinou o estabelecimento de uma vidraria batizada de Verreries Sainte-Anne.

Baccarat, destacada em amarelo, fica a meio caminho entre Nancy e Strasbourg.

Diz a lenda que todos os dias Luiz XV tomava vinho em uma taça de cristal Baccarat e depois a quebrava para que ninguém mais a usasse. Graças à sua história ligada à monarquia francesa e à fabricação de artigos de luxo, em cristal, a Baccarat produziu peças para vários reis da França, terminando com os últimos monarcas Luiz XVIII, Carlos X e Luiz Felipe. Muitas famílias afortunadas e empresas de luxo passaram a desejar o cristal que a realeza tanto apreciava. A marca ganhou força na decoração e no segmento de mesa, na Europa e no mundo.

Antiga foto da Cristallerie Baccarat em 1933, mostrando a saída de operários

A vidraria tornou-se uma Cristallerie - manufatura de de artigos de cristal - em 1816, quando Aimé-Gabriel d'Artigues, empresário do ramo na Bélgica, assumiu os negócios da antiga fábrica. Desde então, a marca é sinônimo universal de lapidação precisa e manufatura de objetos únicos, nas mais variadas formas: vasos, cinzeiros, lustres, candelabros, joias, bijuterias, frascos de perfume, acessórios femininos etc.  Para reis e plebeus abastados, Baccarat é status de opulência, charme e sofisticação real. As peças são lapidadas à mão como pedras preciosas, em processo artesanal com capricho e requinte.

No Brasil existe o terceiro maior acervo de cristais Baccarat, ficando atrás somente da França e da Alemanha.

Em 2018, a Baccarat foi comprada por uma companhia chinesa de gestão de investimentos, por 164 milhões de euros.

Uma dúzia de taças

O conjunto era de doze peças que nunca foram usadas por meus avós nem por meus pais. Há décadas, reformei um antigo guarda-roupa, substituindo sua pesada porta única por duas portas e instalando prateleiras internas onde as taças Baccarat foram guardadas. Em pouco tempo, o mau serviço do marceneiro provocou a queda da prateleira, quando duas taças quebraram. Restaram as dez apresentadas na foto do início desta postagem.

Valor

Na Vinhati Antiguidades, Bairro Floresta, em Porto Alegre, cada taça Baccarat custa R$500,00.


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 Fontes: 

  •  Arquivo pessoal - 
  • Hemeroteca da Casa de Memória Edmundo Cardoso -
  • https://www.viamichelin.fr/- 
  • https://www.geneanet.org/cartes-postales/view/5401140#0 - 
  • https://aresdomundo.com/cristais-baccarat/ - https://en.wikipedia.org/wiki/Baccarat_(company)

Um comentário:

Fernanda Pedrazzi disse...

Admirável que ainda existam 10 taças! E são lindas! Estou curiosa por ver mais postagens como esta com informações sobre objetos que o senhor e dona Antonieta guardam com carinho. Abraços!