segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Crônica da chuva - há 85 anos

 As quadras e o pequeno pavilhão social do Avenida Tênis Clube, eram importantes espaços para convívio social e esportivo de jovens santa-marienses, nas primeiras décadas do século XX. O clube estava então instalado na Praça da República, na área hoje ocupada pelo Corpo de Bombeiros.
Nos anos 30, as alegres tardes de jogos e as reuniões dançantes cumpriam a finalidade que fora desejada pelas fundadoras, em 1917.
Uma crônica publicada no Diario do Interior, em 2.9.1933, sábado, assinada com o pseudônimo de “Nicia”, revela sentimentos de frustração e desalento durante quatro dias de chuva. Assim como hoje, neste domingo de 2.9.2018, exatamente 85 anos depois.
Nicia lamenta não poder usar sua nova raquete e cita o tênis como o “esporte de Borotra”. Referia-se a Jean Robert Borotra, o tenista francês campeão de Wimbledon, em 1924 e 1926, do Open da Austrália, em 1928, e de Roland Garros, em 1931.

A seguir, culpa São Pedro e revela-se jovem, comparando a velhice do guardião das portas dos céus e das chuvas com sua juventude. Declara-se saudosa das alegres tardes de jogos, nas quadras do Avenida Tênis Clube.

Termina sua crônica comunicando que, com a releitura de O Tênis, de Décio Ferraz Alvim, estaria pronta para desafiar as jovens tenistas do A.T.C.:
Clelia Nieves, que Nicia descreveu em crônica posterior:
... pele morena, cabelos negros e crespos, olhos da mesma cor, melancólicos; faz recordar as belas andaluzas.
Boca pequena e lábios róseos, sempre prontos a mostrar uma fileira de lindas pérolas.
Uma covinha, bela e original covinha, que só aparece quando ela sorri aquele sorriso moço e são de suas encantadoras primaveras. E como faz bem a nós, já velhos, aquela mocidade alegre e desenvolta.
Amelinha Pereira, que seria coroada a 2 ª Rainha do A.T.C., no ano seguinte, em 28.7.1934.
Clelia Nieves, Amelinha Pereira e Elisa Pereira

Norma Seibel
Herta Puhlmann, tenista e pianista, que escrevera a partitura do Hino do A.T.C., composto, meses antes, por seu irmão Horst Puhlmann.
Elisa Pereira, muito ativa nos jogos e na diretoria, foi bem votada para a 1ª rainha do clube.
Nicia conclui citando a “excelsa e querida Rainha”, Norma Seibel, a 1ª Rainha do A.T.C., eleita por votação dos associados e coroada em 4 de julho daquele ano.

Mas quem era Nicia? Naquela época, eram frequentes as crônicas referentes ao tênis, no Diario do Interior. Eram assinadas por cronistas sob diversos pseudônimos: Smash, Drive, Marrecão, Fundo, Rod, Joel, Nicia, Pythoniza, Sinhasinha. Não identifiquei Nicia, mas suspeito que era um pseudônimo partilhado por um homem e uma mulher.

Nas citações acima, Nicia ora se diz "ansiosa", esperando o sol, e “socada aqui, neste ermo” e anuncia que desafiará as tenistas, chamando-as “campeãs”; ora proclama, referindo-se à mocidade alegre e desenvolta de Clelia, “como faz bem a nós, já velhos”.

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