No
ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a
eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival
beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro
jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão.
Eleição da Rainha
Na sessão de diretoria do Avenida Tênis Clube, em 10.3.1933,
Ernesto Lang, tesoureiro, apresentou a proposta que partira de vários sócios de
que fosse realizada uma eleição entre as jovens associadas, para escolha da
rainha do clube. A proposta foi aceita com entusiasmo.
O Avenida Tênis Clube vivia uma época de intensa atividade
esportiva e social. Eram frequentes os torneios de tênis com clubes de
Cachoeira, São Gabriel, Cacequi, Cruz Alta. Muitas jovens santa-marienses
praticavam o tênis, nas três quadras da Praça da República,[1]
e participavam das reuniões sociais no pequeno pavilhão que servia de sede.
O pavilhão social, construído em 1923, na sede então
instalada na Praça do Mercado (hoje Saturnino de Brito),[2]
fora transportado para a nova sede da Praça da República, em junho de 1930, e fora
ampliado em 1932.
O A.T.C. na Praça da República, no local hoje ocupado pelo Corpo de Bombeiros. Foto ~1938 - acervo Casa de Mem. Edmundo Cardoso - CMEC |
A eleição foi organizada, e foram produzidas cédulas
eleitorais para votação. Não foi estabelecida a inscrição de candidatas. Algumas
jovens atecianas passaram a ser votadas, no início de maio, quando os “cabos
eleitorais” puseram-se em atividade. Os votos eram depositados em uma urna, na
Casa Lang,[3]
empresa do diretor esportivo do clube, Carlos Oscar Lang, na Primeira Quadra da
Rua Dr. Bozano, 1228, onde hoje está uma loja da rede Colombo.
A eleição da primeira rainha do tênis muito movimentou o
quadro social.
Em 6 de maio daquele ano, sábado, o Avenida Tênis Clube
iniciou as noitadas de inverno, em sua sede, na Praça da República.
Publicado no Diario do Interior, sexta-feira, 5.5.1933. |
Na alegre noite dançante, houve intenso entusiasmo para a
eleição da Rainha. Os cabos eleitorais empenhavam-se, cabalando votos para suas
candidatas.
Norma Seibel - 1934 acervo Octavio Silveira |
Na primeira apuração, em 12 de
maio, Norma Seibel já tomou a dianteira,
disputando-a com Agueda Brazzale, da qual se distanciou nas apurações
seguintes. As demais eram Elisa Pereira, Lucia Izaguirre, Amélia Pereira, Maria
Viola e Clelia Nieves. As candidatas praticavam o tênis e eram assíduas
frequentadoras das quadras e das reuniões sociais do A.T.C. Em junho de 1933,
Elisa Pereira, Amelia Pereira, Lucia Izaguirre e Clelia Nieves estavam
classificadas na primeira divisão feminina, Maria Viola, na segunda divisão e
Agueda Brazzale, na terceira divisão.
Além de Norma Seibel, as mais votadas foram:
Elisa Pereira - 2.9.1934 - acervo J.A.Brenner |
Elisa Pereira – Sobre
ela, foi escrito na edição de 25.1.1934 do jornal A.T.C.:
Formosa e meiga. Loira, esbelta, de olhos azuis. Entusiasta
emérita do tênis, do nosso clube, do nosso jornal. Se é certo que temos todos,
fisicamente, um traço característico, não é menos exato que cada alma possui um predicado inconfundível: o de Elisa
Pereira é a meiguice. Joga tênis como encara a vida: com um eterno sorriso
otimista, bom e eminentemente contagioso. Ternura natural e espontânea, sem
artificialismo exagerado e ridículo. Riso franco, sincero, permanente, sem
ressaibo de ceticismo, sem amargor de dúvida.
Se alguém a ofendesse, riria; é com certas árvores que
perfumam o machado que as maltrata.
Agueda Brazzale –
19 anos. Nasceu em Santa Maria, em 8.11.1013, filha de João Baptista Brazzale,
dono da Pharmacia Moderna e
responsável pela Pharmacia da Cooperativa
dos ferroviários.
Agueda formou-se professora na Escola
Agueda Brazzale. Foto na revista CCA, em 25.12.1932. acervo CMEC |
Em A.T.C., edição
de 2.13.1033 foi escrito:
“A natureza me fez bela, a inteligência deu-ma Deus, e da
graça, o dom divino, as fadas me fizeram rica. Sou querida de todos: dos moços,
que olham no fundo dos meus olhos, e dos velhos, que enxergam dentro do meu
coração.”
Ele poderia dizer isso e não teria dito tudo. Daquele buquê
mimoso de rosas lindas que são do Avenida o encanto maior, ela é uma das mais
belas, e sem o espinho da vaidade. De Agueda Brazzale o A.T.C. não disse tudo, mas todos sabem que poderia ter dito muito
mais.
Lucia Izaguirre. Foto no jornal A.T.C. em 17.3.1934 |
Lucia Izaguirre –
17 ou 18 anos. Nasceu em Livramento, filha de Antonio Izaguirre, eng. mecânico
da Viação Férrea, e Adalbertina, conhecida por Mindoca Izaguirre.
Eis como o A.T.C.
a descreveu, na edição de 17. 3.1934:
O soberbo contraste dos magníficos olhos escuros com a
claridade rutilante dos cabelos de ouro lembra-nos um sorriso entre lágrimas ou
a alegria de um raio de sol, numa manhã sombria de inverno e faz que, daquele
ramalhete mimoso que dá encanto às quadras do Avenida, Lucia Izaguirre seja,
senão o mais belo, pelo menos o mais precioso ornamento.
O porte fidalgo, as maneiras delicadas e distintas, a doçura
do seu convívio, fazem-na querida de todos atecianos. Nós, os da velha guarda,
sentimos saudade do “nosso tempo”, quando nos fitam aqueles doces olhos de veludo.
Apaixonada das letras, a sua colaboração nas colunas de
nosso jornal é o melhor testemunho de sua fina cultura.
A eleição encerrou-se em 10 de junho, e no dia 18 o Diario do Interior publicou o resultado
final:
Foi eleita Norma Seibel, com 45%
dos votos e larga vantagem sobre outras três candidatas mais votadas: Elisa
Pereira, Agueda Brazzale e Lucia Izaguirre. No dia 17 de junho, sábado, uma
comissão do Avenida Tênis Clube visitou Norma Seibel em sua residência para
participar o resultado da eleição e convidar para o próximo Festival do Tênis,
quando seria feita, solenemente, sua coroação como soberana do clube.
Na edição do Diario do Interior de 18 de junho,
domingo, uma cronista do A.T.C., sob o pseudônimo de “Sinhasinha”, em sua crônica intitulada “Foi
eleita a Rainha!” referia-se a um empenhado cabo eleitoral de outra
candidata, possivelmente Agueda Brazzale:
E a cronista finalizava, proclamando
[1] No tempo
do Império, chamava-se Praça da Constituição. Com a proclamação da República,
foi denominada Praça 15 de Novembro e, mais tarde, Praça da República. Em 1963,
foi rebatizada Praça Tenente João Pedro Menna Barreto, hoje popularmente
chamada “Praça dos Bombeiros”.
[2] Praça do
Mercado era o nome popular da área, destinada a um mercado público que não foi
construído. Não teve qualquer tratamento paisagístico antes de o A.T.C. ali se
instalar.
[3]
Tradicional empresa familiar, no ramo de ferragens, materiais de construção e
bazar, fundada em 1928 e fechada em 1995.
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Fontes:
Arquivo Histórico Municipal/Hemeroteca - Diario do Interior.
A.T.C. - Orgão do Avenida Tennis Club -1933
Casa de Memória Edmundo Cardoso/Fototeca e hemeroteca.
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Fontes:
Arquivo Histórico Municipal/Hemeroteca - Diario do Interior.
A.T.C. - Orgão do Avenida Tennis Club -1933
Casa de Memória Edmundo Cardoso/Fototeca e hemeroteca.
Um comentário:
Como é linda esta nossa História. Li o Hino do ATC e me emocionei. Um abraço tenístico. Mezzomo.
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