(continuação da postagem anterior)
Alguns detalhes da
construção
O Dr. Astrogildo registrou, em 33 páginas, as despesas com materiais e mão de obra, que somaram 77 contos de réis.
Há, nesses registros, algumas informações interessantes. A
demolição da casa antiga iniciou em 23.10.1912 e foi rápida, terminando em três
semanas. Em 1º de novembro, foi obtida a licença da Intendência para a nova
construção e, em 16 de novembro, foi assentada a primeira pedra das fundações.
Quatro meses depois, já estavam erguidas as alvenarias dos
dois pavimentos e estava concluída a estrutura do telhado, pois em março de
1913 foram despendidos 15 kg de carne e 50 garrafas de cerveja, certamente para
a tradicional festa da cumeeira. A cobertura, em quatro águas, tinha, em cada uma delas, janelas de mansarda, que não mais existem. Foram usadas placas de cimento-amianto, à semelhança de ardósias, o mesmo material adotado, na época, para o quartel do 7º Regimento de Infantaria, o palacete Theodor Carsten, a casa pastoral da Igreja Evangélica Alemã e outras, todas em 1912 e 1913.
Foram
compradas 2.160 placas e 160 cumeeiras
da marca Eternit, certamente produzidas na fábrica então existente na Bélgica.
A cobertura é coroada por um belvedere cercado com gradis, com acesso interno
por escadas e alçapão.
Foto em O Estado do Rio Grande do Sul, 1916, com a legenda: "Elegante palacete da Rua Acampamento". |
O portão da entrada
de carros e demais grades, foram produzidos na fábrica de carruagens de Luiz
Vallandro. Os mármores de Carrara foram fornecidos pela famosa marmoraria J. Aloys Friedrich, de Porto Alegre. A pintura interna decorativa, não mais existente, de paredes e tetos, iniciada em agosto de 1913, foi executada por Werner Wunderling, por 2 contos e 800 mil réis. Antonio Marques de Carvalho, professor de desenho, modelagem e pintura, executou as esculturas da porta da porta principal, por 210 mil réis. Alguns materiais foram comprados em Montevidéu, como a fachadura Yale da porta principal, 30 outras das postas internas, o para-raios e outras peças.
Obra pronta
O Diario do Interior,
que circulou em Santa Maria de 1911 a 1939, costumava publicar matérias detalhadas
sobre edificações novas de alguma importância na cidade, como ocorreu com a
obra do Banco da Província, concluída em dezembro de 1912. Em notícia de
primeira página, com foto do prédio bancário, o jornal informa que a “planta e
construção foram do Rudolph Ahrons, representado aqui pelo arquiteto Henrique
Schütz, que dirigiu todo o serviço.”
Porta principal, esculpida por Antonio de Carvalho. |
Houve apenas uma pequena nota, no citado jornal, em
12.11.13, informando que “o palacete do
Dr. Astrogildo de Azevedo, em construção à Rua do Acampamento, já está
recebendo os últimos retoques.”
Um mês depois, Dr. Astrogildo e sua esposa D. Aura, com seus
três filhos – Estella, com 17 anos;
Aracy, com 14; e Fernando, com 11 anos – passaram a habitar o novo e
confortável lar. Isso foi registrado por ele: “Nos mudamos para a casa no dia
12 de dezembro de 1913”, data que marca o centenário do Palacete Astrogildo de
Azevedo.
Comemoração
Recital comemorativo, em 28.11.2013. À direita, Antonio Flores e Diego Ferreira de Azevedo. |
Para comemorar a passagem de um século do palacete, um
evento foi organizado por Rodrigo de Azevedo Steffens, bisneto do Dr.
Astrogildo. No dia 28 de novembro, no salão principal do prédio,
apresentaram-se, em recital de saxofone e cordas, Diego Ferreira de Azevedo,
trineto do Dr. Astrogildo, e Antonio Flores, perante uma platéia de diversas
gerações da família Azevedo, amigos e convidados. Antecedeu o recital uma breve
narrativa sobre aspectos históricos e técnicos do palacete, por José Antonio
Brenner.
Assim, uma das mais expressivas edificações do passado santa-mariense, construída quabndo a cidade tinha apenas 15 mil habitantes, segue preservada. E o centenário de sua existência foi devidamente registrado e comemorado.
Fontes:
WEIMER, Günter. Theo
Wiederspahn – Arquiteto. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009.
MONTE DOMCQ, Ramón. O
Estado do Rio Grande do Sul. Barcelona: Estabelecimento Graphico Thomas,
1916. Acervo Casa de Memória Edmundo Cardoso.
Revista Commemorativa
do Centenario de Santa Maria, Porto Alegre: Officinas Graphicas da Livr. do
Globo, 1914.
Album de Santa Maria
da Bocca do Monte, Porto Alegre: L. P. Barcellos & C., 1914.
Diario do Interior,
Santa Maria, edições de 14.12.1913 e 12.11.1913. Hemeroteca do Arquivo
Histórico Municipal de Santa Maria .
Casa de Memória Edmundo Cardoso, Santa Maria, fototeca.
Entrevista com Marina Klumb Dallasta.
Um comentário:
bela pesquisa!
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