Em sequência às postagens, interrompidas em novembro de 2012, sobre ex-presidentes do Avenida Tênis Clube ausentes na galeria de fotos, apresento
João Baptista Leggerini
Ele foi eleito presidente do A.T.C., na assembleia geral de 15.3.1930, e exerceu seu mandato num período de grandes dificuldades para o clube.
João Baptista Leggerini nasceu em Montenegro, em 15.5.1895. Cursou a Escola de Engenharia de Porto Alegre, atual UFRGS, formando-se Engenheiro Mecânico e Eletricista, em 1917. Em janeiro de 1918, integrou um grupo de oito recém-formados em viagem de estudos aos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Logo depois, ingressou na Viação Férrea, sendo designado para trabalhar em Santa Maria, onde, mais tarde, exerceu a chefia da seção de eletricidade.
Em 7.10.1929, associou-se ao Avenida Tênis Clube, proposto pelo então presidente João Appel Lenz.
Em 1930, o Governo Provisório de Getúlio Vargas dissolveu os Conselhos Municipais, destituiu os intendentes e criou o cargo de prefeito para a gestão executiva dos municípios.
O intendente de Santa Maria, Manuel Ribas, foi mantido no cargo como prefeito. Com a dissolução do Conselho Municipal, buscando respaldo à sua administração, o prefeito criou, em dezembro de 1930, o Conselho Consultivo para o qual convidou oito cidadãos, entre eles João Baptista Leggerini. Isso mostra a posição de prestígio que o jovem engenheiro detinha na sociedade santa-mariense. Também eram membros os advogados Walter Jobim e João Bonuma, e os médicos Severo do Amaral e Lamartine Souza, todos sócios do A.T.C.
Saneamento da cidade
O projeto de saneamento básico de Santa Maria, contratado em 1918 ao Eng. Saturnino de Brito, previa um reservatório na Praça do Mercado. Com a renúncia do intendente contratante, Astrogildo de Azevedo, a interinidade, a morte e a cassação de alguns de seus sucessores, o projeto foi esquecido. Somente o intendente Celso Penna de Moraes, em seu curto mandato (1926-28), se empenhou intensamente para a execução das obras, obtendo financiamento do Estado, o que possibilitou a seu sucessor, Manuel Ribas, realizá-las. Foram iniciadas em
novembro de 1929, com abertura das valetas para rede de água, na Rua Silva
Jardim, perto da Igreja do Rosário.
O Avenida Tênis Clube estava instalado, desde 1922, em área na esquina das ruas Dr. Bozano e Duque de Caxias, popularmente chamada Praça do Mercado, mais tarde, em 1931, denominada Praça Saturnino de Brito.
O Diario do Interior, em 15.3.1930, noticia que o intendente Manuel Ribas solicitara ao clube a desocupação da área porque deveria ali "organizar um grande jardim da infância", pois pretendia que o Estado construisse, em terreno contíguo, "um grande edifício destinado à Escola Complementar e ao Colégio Elementar". Eram medidas prévias para a construção do colégio estadual que seria inaugurado em 1938, porém a um quarteirão de distância, com o nome de "Olavo Bilac".
A data da notícia é a mesma da
assembleia que elegeu Leggerini e de uma petição ao Intendente, assinada por 45
sócios, encabeçada pelo vice-intendente, o médico Severo do Amaral, pelo
presidente eleito, João Baptista Leggerini, e pelo presidente do Conselho
Municipal, João Appel Primo. O documento citava dados do A.T.C. desde sua
fundação e de seu desenvolvimento, exaltando sua “confortável e invejável sede atual”, destacando que “excluídas as
cidades de Porto Alegre e Pelotas, muito mais antigas, de população mais densa
e mais rica, nenhuma outra do Estado possui um clube de tênis com instalação
semelhante...”
Há dubiedade quanto ao motivo alegado, porque o projeto de saneamento previa, na então chamada Praça do Tênis, a construção do reservatório da cidade, concluído em dezembro de 1930. Talvez existissem os dois motivos, quando foi pedida a desocupação pelo intendente Manuel Ribas, que não atendeu à circunstaciada petição dos atecianos.
Foto de Miguel Lampert, em 24.4.1935, mostra a sede do Avenida Tênis Clube, na Praça da República. [acervo Carlos Eduardo Pereira da Silva] |
Nova sede
A construção da nova sede, com três quadras e pavilhão social, teve a indispensável colaboração de Wayss & Freitag, empresa alemã que vencera a concorrência para as obras do saneamento da cidade, através de sua sucursal em Montevidéu.
João Baptista Leggerini, em sua gestão, enfrentou a espinhosa tarefa de desocupar a Praça do Mercado e construir o nova sede na Praça da República, o que impediu a prática do esporte por mais de um ano. Mas conseguiu realizá-la, antes de dar posse ao seu sucessor, Carlos Lang, que a inaugurou, em 21.6.1931.
Trecho de notícia do Diario do Interior, em 21.6.1931, cita o reservatório que até hoje existe na Praça Saturnino de Brito. |
O trabalho de João Baptista Leggerini foi largamente
reconhecido. Esse reconhecimento foi evidenciado na assembleia geral de 18.3.1932,
quando foi aprovado, por aclamação, prestar-lhe uma significativa e justa homenagem,
dando seu nome a uma quadra de tênis, conforme a ata, “pelo muito que fez em
benefício do Avenida, por ocasião da
mudança da sede.”
Programada para 17 de abril, a homenagem foi adiada,
devido à ausência do homenageado, que se encontrava em Porto Alegre. Finalmente,
em 10 de julho de 1932, domingo, a “Pelouse Dr. Leggerini” foi oficialmente
inaugurada. Embora fosse de saibro, a quadra de tênis era chamada pelouse, expressão francesa que significa
gramado.
Na mesma data, após os jogos, foram festivamente
inaugurados, com um chá-dançante, a ampliação do salão e outros melhoramentos.
A placa esmaltada estava afixada na cerca sul da quadra. Imagem desenhada de memória. |
Assim como outras, essa homenagem foi lamen-tavelmente
desfeita, quando o clube transferiu-se, em 1958, para o local onde se encontra.
As placas denominativas das três quadras de tênis foram simplesmente supri-midas, e as homenagens a
ilustres atecianos foram desrespeitadas.
Um comentário:
Prezado Prof. Benner.
O texto sobre o nosso esquecdio presidente ateciano João Baptista Leggerini está magnífico. Pelos detalhes, imaginamos as dificuldades encontradas na época. Parabéns e por favor continue a escrever.
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