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Em 1933, o clube vivia uma época de intensa atividade
esportiva e social, em sua sede na Praça da República. Vários torneios eram
disputados com clubes de outras cidades, e muitas reuniões sociais foram
realizadas, na recepção aos visitantes e durante a eleição da rainha.
Isso motivou a ideia de que fosse organizado no clube um
setor de comunicação social. Na sessão de diretoria de 30.3.1933, realizada na residência
do presidente João Appel Lenz, participou o associado Alcyr Pimentel, como convidado. Alcyr Valfredo
Pimentel viera do Paraná para trabalhar na cooperativa dos ferroviários e se
associara ao A.T.C. quando o clube estava da Praça do Mercado (atual Saturnino de Brito), tornando-se
aplicado tenista. Viveu mais de dez anos em Santa Maria, onde casou e teve o filho Roberto Valfredo, conhecido como Tatata Pimentel, falecido há dois anos, em Porto Alegre.
Alcyr Pimentel então propôs a criação de um Departamento de
Propaganda no clube que, conforme consta na ata, seria encarregado, “de atrair
os sócios para a sede, criando jogos de salão e reuniões, fazendo publicar, no
jornal local Diario do Interior, uma
série de crônicas e notícias, não só do que ocorresse dentro do clube como de
tudo que pudesse interessar ao esporte do tênis.”
A proposta foi aprovada, e o Departamento de Propaganda foi
criado, a cargo do engenheiro Luiz Schmidt Filho, do médico Lamartine Souza e
de Alcyr Pimentel, autor da ideia.
O departamento foi logo incumbido de divulgar a eleição da
rainha e um ofício foi endereçado ao jornalista Ney Luiz Osório, diretor do Diario do Interior,
pedindo-lhe o necessário apoio quanto à publicação de notícias e crônicas sobre
o tênis.
A.T.C. - o jornal
Essa intensa atividade de
comunicação gerou o surgimento do jornal A.T.C.
– Orgão do Avenida Tennis Clube, o primeiro informativo social ateciano.
Logotipo do jornal A.T.C. |
Cesar Millan, diretor comercial do A.T.C. Recorte de foto de 1935. |
O primeiro número do A.T.C., com quatro páginas, no formato
26 x 35 cm, surgiu em 1º de novembro de 1933. O diretor comercial era
Cesar Millan, gerente da Livraria do Globo, que seria presidente do clube, por
curto período, em 1935. O diretor responsável era Alcyr Valfredo Pimentel, e o
redator-chefe era o médico Lamartine Souza, campeão do clube de 1920 a 1933 e seria
seu presidente, em 1934.
Lamartine Souza, redator- chefe do A.T.C. Recorte de foto de 1932. |
A.T.C., o jornal, tinha redação, gerência e oficinas na Livraria do Globo, situada
na 1ª Quadra da Rua Doutor Bozano, onde hoje está o edifício do Santa Maria Shopping.
Cesar Millan, gerente da livraria, exercia em seu próprio escritório a direção
comercial do A.T.C. e cedia espaço e
equipamentos do setor administrativo para a redação do jornal. Nas oficinas
gráficas da Livraria do Globo, que ocupavam grande área no subsolo da loja, era
feita a impressão do A.T.C.
A importante empresa no ramo de joias, relógios, pratarias e cristais também vendia raquetes de tênis. |
As empresas santa-marienses que anunciavam no A.T.C. eram a Casa Binato, inaugurada em 1934, Casa Herrmann, Parisiense, Casa Oreste, Alfaiataria Dania, Casa Flora, Casas Pernambucanas, A Brasileira, Officinas Gauer, Casas São Paulo e Royal. A mais frequente era a Joalheria Péreyron.
Uma personalidade do clube era
destacada com foto e texto em coluna da primeira página que, a partir da 3ª
edição, foi denominada “Galeria do A.T.C.”
A 1ª edição homenageou Norma Seibel, a Rainha:
O A.T.C. muito se envaidece e se orgulha, estampando em lugar de honra, o retrato da rainha de seu clube. A singeleza da homenagem não corresponde, é claro, à sua significação, mas deixa bem ver sua sinceridade. Soberana escolhida e eleita em pleito renhido, Norma impôs-se aos seus consócios pela graça natural, pela bondade, pelos dotes de espírito, pelo temperamento artístico e, quiçá, pelos seus olhos azuis. Irradiando beleza e mocidade, atrai naturalmente, sem coquetterie inútil. Seu prestígio não decorre do reinado. Norma é mais, é muito mais que rainha do Avenida – princesa linda e imperatriz da graça. A.T.C., jornal de seus súditos, rende-lhe a homenagem de seu respeito.
Nas colunas do jornal ateciano
eram publicadas matérias várias: notícias, artigos, crônicas, comentários
sociais, sempre assinados com pseudônimos. Tilden, Bidu, I di Ota, Sonhadora, Glória da
Cidade, além dos já citados Fundo e Marrecão que,
sabemos, era Alcyr Pimentel.
O redator-chefe, Lamartine
Souza, com sua longa experiência e aptidão tenísticas, escrevia sobre a técnica
e jogadas do esporte. Usava o pseudônimo Elly Hesse, uma transposição fonética
das letras iniciais de seu nome: L. S.
Tênis de cuecas
Um dos articulistas atecianos,
que assinava T. Teco, escreveu na primeira edição do A.T.C. suas impressões sobre o então incipiente uso de calças
curtas por alguns tenistas. Até então e nos anos seguintes, o uniforme branco
do tênis incluía calças compridas.
A semelhança do short branco com
as grandes cuecas então usadas levou o articulista e outros a cunharem o termo
“cuequismo”, isto é, jogar tênis de cuecas.
Eis o primeiro parágrafo:
Circulação e duração
No expediente das primeiras
edições é informado que o A.T.C.
teria circulação bimensal “nas primeira e terceira semanas de cada mês”.
Entretanto, tal periodicidade não ultrapassou a edição nº 5, quando se tornou
mensal e, depois, voltou a ser bimensal em abril e maio de 1934. Entre o nº 12
e o 13, decorreram quase três meses.
Na edição nº 13, de 6.9.1934, a
direção do jornal explica a suspensão durante “a época mais aguda do inverno”
quando a presença dos associados no clube havia diminuído e os colaboradores
haviam deixado de produzir suas matérias.
Não é possível saber quando o A.T.C. deixou de circular. No número 13,
de 6.9.1934, última edição conhecida, uma nota explicativa da ausência do
jornal durante o inverno nada comenta sobre sua suspensão. Ao contrário,
anuncia que o jornal completará um ano de circulação e finaliza reclamando a
participação dos associados.
As atas da época e dos anos
seguintes nada registram sobre a extinção do jornal.
Há vários anos, Luiz Carlos Lang
doou ao clube uma coleção do jornal A.T.C.
com números que haviam pertencido a seu pai, Carlos Lang, e a Docelina Gomes da
Rocha, uma das fundadoras. Outra coleção do jornal, da qual guardo cópia em meu
arquivo, que pertencera a Amélia
Pereira, a 2ª Rainha do Tênis, foi por mim entregue ao clube, há mais de 10
anos.
Em novembro de 2012, precisando
examinar as edições originais, eu as solicitei a Lisete Fröhlich,
Superintendente do Avenida Tênis Clube, que com sua costumeira diligência determinou
às arquivistas do clube a busca no arquivo. Infelizmente, só foram encontrados
os números 1 e 11. Assim, além dessas duas edições, creio que existem somente as
cópias dos números 1 a 13 em meu arquivo.
Fontes:
Acervo pessoal
Livro nº 1 de atas do Avenida Tênis Clube
A.T.C - Orgão do Avenida Tennis Clube, edições nº 1 a nº 13, 1933-34.
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