sábado, 15 de novembro de 2014

A.T.C. - Órgão do Avenida Tennis Club

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão de tênis.

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     Em 1933, o clube vivia uma época de intensa atividade esportiva e social, em sua sede na Praça da República. Vários torneios eram disputados com clubes de outras cidades, e muitas reuniões sociais foram realizadas, na recepção aos visitantes e durante a eleição da rainha. 
   Isso motivou a ideia de que fosse organizado no clube um setor de comunicação social. Na sessão de diretoria de 30.3.1933, realizada na residência do presidente João Appel Lenz, participou o associado Alcyr Pimentel, como convidado.  Alcyr Valfredo Pimentel viera do Paraná para trabalhar na cooperativa dos ferroviários e se associara ao A.T.C. quando o clube estava da Praça do Mercado (atual Saturnino de Brito), tornando-se aplicado tenista. Viveu mais de dez anos em Santa Maria, onde casou e teve o filho Roberto Valfredo, conhecido como Tatata Pimentel, falecido há dois anos, em Porto Alegre. 
   Alcyr Pimentel então propôs a criação de um Departamento de Propaganda no clube que, conforme consta na ata, seria encarregado, “de atrair os sócios para a sede, criando jogos de salão e reuniões, fazendo publicar, no jornal local Diario do Interior, uma série de crônicas e notícias, não só do que ocorresse dentro do clube como de tudo que pudesse interessar ao esporte do tênis.”
   A proposta foi aprovada, e o Departamento de Propaganda foi criado, a cargo do engenheiro Luiz Schmidt Filho, do médico Lamartine Souza e de Alcyr Pimentel, autor da ideia.
   O departamento foi logo incumbido de divulgar a eleição da rainha e um ofício foi endereçado ao jornalista Ney Luiz Osório, diretor do Diario do Interior, pedindo-lhe o necessário apoio quanto à publicação de notícias e crônicas sobre o tênis.
    Quase que diariamente, o Diario do Interior passou a apresentar matérias sobre o Avenida Tênis Clube, na forma de notícias sobre jogos e eventos sociais e de crônicas sobre temas variados ligados ao clube. Na época, estavam em moda os pseudônimos, e os cronistas do A.T.C. assinavam Marrecão, Fundo, Smash, Drive, Rod, Beduino, Joel, Sinhasinha, Nícia, Pythoniza e outros. Desses, só identifiquei Marrecão, que era Alcyr Pimentel.
   A.T.C. - o jornal
   Essa intensa atividade de comunicação gerou o surgimento do jornal A.T.C. – Orgão do Avenida Tennis Clube, o primeiro informativo social ateciano.
Logotipo do jornal A.T.C.

Cesar Millan, diretor
comercial do A.T.C.
Recorte de foto de 1935.
   O primeiro número do A.T.C., com quatro páginas, no formato  26 x 35 cm, surgiu em 1º de novembro de 1933. O diretor comercial era Cesar Millan, gerente da Livraria do Globo, que seria presidente do clube, por curto período, em 1935. O diretor responsável era Alcyr Valfredo Pimentel, e o redator-chefe era o médico Lamartine Souza, campeão do clube de 1920 a 1933 e seria seu presidente, em 1934.
Lamartine Souza, redator-
chefe do A.T.C.
Recorte de foto de 1932.
   A.T.C., o jornal, tinha redação, gerência e oficinas na Livraria do Globo, situada na 1ª Quadra da Rua Doutor Bozano, onde hoje está o edifício do Santa Maria Shopping. Cesar Millan, gerente da livraria, exercia em seu próprio escritório a direção comercial do A.T.C. e cedia espaço e equipamentos do setor administrativo para a redação do jornal. Nas oficinas gráficas da Livraria do Globo, que ocupavam grande área no subsolo da loja, era feita a impressão do A.T.C.
A importante empresa no ramo de
joias, relógios, pratarias e cristais
também vendia raquetes de tênis.

   
   As empresas santa-marienses que anunciavam no A.T.C. eram a Casa Binato, inaugurada em 1934, Casa Herrmann, Parisiense, Casa Oreste, Alfaiataria Dania, Casa Flora, Casas Pernambucanas, A Brasileira, Officinas Gauer, Casas São Paulo e Royal. A mais frequente era a Joalheria Péreyron.

   Uma personalidade do clube era destacada com foto e texto em coluna da primeira página que, a partir da 3ª edição, foi denominada “Galeria do A.T.C.”  A 1ª edição homenageou Norma Seibel, a Rainha:
O A.T.C. muito se envaidece e se orgulha, estampando em lugar de honra, o retrato da rainha de seu clube. A singeleza da homenagem não corresponde, é claro, à sua significação, mas deixa bem ver sua sinceridade. Soberana escolhida e eleita em pleito renhido, Norma impôs-se aos seus consócios pela graça natural, pela bondade, pelos dotes de espírito, pelo temperamento artístico e, quiçá, pelos seus olhos azuis. Irradiando beleza e mocidade, atrai naturalmente, sem coquetterie inútil. Seu prestígio não decorre do reinado. Norma é mais, é muito mais que rainha do Avenida – princesa linda e imperatriz da graça.  A.T.C., jornal de seus súditos, rende-lhe a homenagem de seu respeito.
   Nas colunas do jornal ateciano eram publicadas matérias várias: notícias, artigos, crônicas, comentários sociais, sempre assinados com pseudônimos. Tilden, Bidu, I di Ota, Sonhadora, Glória da Cidade, além dos já citados Fundo e Marrecão que, sabemos, era Alcyr Pimentel.
   O redator-chefe, Lamartine Souza, com sua longa experiência e aptidão tenísticas, escrevia sobre a técnica e jogadas do esporte. Usava o pseudônimo Elly Hesse, uma transposição fonética das letras iniciais de seu nome: L. S.
   Tênis de cuecas
   Um dos articulistas atecianos, que assinava T. Teco, escreveu na primeira edição do A.T.C. suas impressões sobre o então incipiente uso de calças curtas por alguns tenistas. Até então e nos anos seguintes, o uniforme branco do tênis incluía calças compridas.
   A semelhança do short branco com as grandes cuecas então usadas levou o articulista e outros a cunharem o termo “cuequismo”, isto é, jogar tênis de cuecas.
   Eis o primeiro parágrafo:

   Circulação e duração
   No expediente das primeiras edições é informado que o A.T.C. teria circulação bimensal “nas primeira e terceira semanas de cada mês”. Entretanto, tal periodicidade não ultrapassou a edição nº 5, quando se tornou mensal e, depois, voltou a ser bimensal em abril e maio de 1934. Entre o nº 12 e o 13, decorreram quase três meses.
   Na edição nº 13, de 6.9.1934, a direção do jornal explica a suspensão durante “a época mais aguda do inverno” quando a presença dos associados no clube havia diminuído e os colaboradores haviam deixado de produzir suas matérias.
   Não é possível saber quando o A.T.C. deixou de circular. No número 13, de 6.9.1934, última edição conhecida, uma nota explicativa da ausência do jornal durante o inverno nada comenta sobre sua suspensão. Ao contrário, anuncia que o jornal completará um ano de circulação e finaliza reclamando a participação dos associados.

   As atas da época e dos anos seguintes nada registram sobre a extinção do jornal.
   Há vários anos, Luiz Carlos Lang doou ao clube uma coleção do jornal A.T.C. com números que haviam pertencido a seu pai, Carlos Lang, e a Docelina Gomes da Rocha, uma das fundadoras. Outra coleção do jornal, da qual guardo cópia em meu arquivo, que pertencera a Amélia Pereira, a 2ª Rainha do Tênis, foi por mim entregue ao clube, há mais de 10 anos.
   Em novembro de 2012, precisando examinar as edições originais, eu as solicitei a Lisete Fröhlich, Superintendente do Avenida Tênis Clube, que com sua costumeira diligência determinou às arquivistas do clube a busca no arquivo. Infelizmente, só foram encontrados os números 1 e 11. Assim, além dessas duas edições, creio que existem somente as cópias dos números 1 a 13 em meu arquivo.

Fontes:
Acervo pessoal
Livro nº 1 de atas do Avenida Tênis Clube
A.T.C - Orgão do Avenida Tennis Clube, edições nº 1 a nº 13, 1933-34.


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