sábado, 8 de novembro de 2014

O festival do tênis

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão.
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   Em 15.9.1931, o Avenida Tênis Clube (ATC) realizou um festival beneficente, no Coliseu Santamariense, que ficou lotado. As atas não revelam o motivo, sequer mencionam a realização do festival, mas pode ter sido para cobrir despesas decorrentes das novas instalações da sede, na Praça da República, inauguradas em 21.6.1931.
    Festival de 1933
  Dois anos depois, um novo festival, inicialmente projetado para homenagear a rainha do ATC, solenizando sua coroação, tornou-se um variado espetáculo de artes cênicas, em benefício do clube, realizado no Cine-Theatro Independência.
 
O Festival do Tênis foi realizado no Cine-Theatro Independência,
na Praça Saldanha Marinho, onde hoje existe um shopping popular.
À direita, o Centro Hotel em cujo prédio foi inaugurado, em 7.10.1934,
o jornal A Razão, que ali esteve durante 41 anos.
   Apresentações artísticas com o objetivo de angariar fundos para as sociedades locais haviam sido frequentes em passado recente. Na expectativa da realização do festival do Avenida Tênis Clube, um cronista escreveu, sob o pseudônimo “Joá”, no Diario do Interior, em 4.7.1933:
Não vão longe os tempos em que todos quantos em Santa Maria apreciavam os espetáculos de arte, fartavam-se de prazer, assistindo as magníficas soirées artísticas, organizadas em beneficio de nossas sociedades [...]. Aqueles espetáculos ganharam fama, e as enchentes e os aplausos gerais premiavam os esforços [...]. Depois, somente de longe em longe nos foi dado rever na ribalta os destacados elementos do mundo artísticos desta terra.
   O cronista prosseguiu afirmando sua confiança de que a festa de arte do Avenida Tênis Clube ofereceria a oportunidade de apreciar as inteligências moças que surgiram e brilhavam no meio artístico santa-mariense. Atores, autores e diretores poderiam revelar seus admiráveis dotes.
   Em 10 de maio, outro cronista escrevera que “para a respectiva entronização, está projetado um programa extraordinário, ao qual a diretoria do Avenida pretende dar um caráter de – reinado de verdade – solenizando-o, de maneira invulgar.”
Francisca de Campos Souza, "Dona
Chiquinha", esposa do Dr. Lamartine, 
foi organizadora do Festival.
   Naquele mês, foi criada uma comissão organizadora de várias pessoas que, entretanto, ficou reduzida a um número pequeno de senhoras ateceanas. Logo começaram, na sede do A.T.C. e no Clube Comercial os ensaios de danças clássicas e modernas, dirigidos por Renée Gauer, jovem professora de ginástica corretiva e rítmica.

   Era noticiada a participação dos elementos mais representativos do mundo artístico local: Norma Seibel, violinista; Clelia Filizzola, soprano; Hertha Puhlmannm pianista;  Garibaldi Poggetti, violoncelista e outras tantas figuras representativas do nosso escol artistico. A notícia antecipava que a primeiro ato seria composto de solos de violino, violoncelo, canto, dança, declamação e do consagrado coro a quatro vozes “Friedemann Bach”, sob a regência do Maestro Garibaldi Poggetti, que havia alcançado grande sucesso nos concertos realizados. Destacava o segundo ato, quando seria encenada “Barafunda”, uma revista de costumes locais, escrita especialmente para o festival por Lamartine Souza, citado como “um dos mais abnegados atecianos e elemento de maior cultura desta cidade”.
  A festa cênica era chamada Festival do Tênis ou Festival da Rainha. Três semanas antes do espetáculo, Alcyr Pimentel, sob o pseudônimo de “Marrecão”, finalizava sua crônica exaltando os dotes de Norma Seibel, a rainha a ser coroada.
 
Diario do Interior, 15.6.1933 - trecho final da crônica.
   Finalmente, na noite de terça-feira, 4.7.1933, o público lotou o Cine-Theatro Independência,  com capacidade para 2.000 pessoas.
   Na dança intitulada “No Templo das Três Graças”, tomaram parte Águeda Brazzale, Clelia Nieves, Amélia Pereira, Norma Saldanha, Mary Monteiro, Lourdes Crossetti, Hilda Soares, Emília Benaduce e as meninas Berenice Souza, Caster Belém, Lise Lenz, Leda Martins, Maria Bastide, Maria Souto e Therezinha Fernandes.
Publicado cinco vezes no Diario
do Interior
, em 4.7.1933

    No terceiro e último ato do espetáculo, Norma Seibel, a rainha eleita do Avenida Tênis Clube, foi solenemente coroada.
   Após a coroação, Norma Seibel trocou o vestido branco de rainha por um longo azul e executou uma peça ao violino, instrumento de que era exímia professora.
Fechando a linda festa de arte, os tenistas cantaram, em coro, o hino do valoroso Avenida Tênis Clube.
 
Norma Seibel, portando a coroa fabricada pela Escola de Artes e Ofícios
Foto de Venancio Schleiniger
Em 7.7.1933, o Diario do Interior
anuncia a reprise do Festival.
 O sucesso foi tal que uma reprise do espetáculo foi levada à cena, na sexta-feira seguinte, acrescentando ao programa um bailado das alunas do Colégio Centenário.

  Na sessão de diretoria do dia 15 de julho de 1933, foi deliberado um voto de louvor pela organização do Festival e registrado o benefício para o clube que, “não obstante a avultada despesa,” resultou a renda líquida de R$1:800$000
O Diario do Interior, edição de 7.7.1933, reconhece
o trabalho da comissão organizadora do Festival.


Fontes:
Acervo pessoal.
Acervo de Norma Seibel de Oliveira.
Arquivo Histórico Municipal de S. Maria - Hemeroteca
Livro nº 1 de atas do Avenida Tênis Clube.

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