Uma foto encontrada em meus arquivos lembrou-me de minha
participação em um concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – a OSPA.
No período de quatro anos, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre-OSPA, sob a regência do
maestro Pablo Komlós, realizou três concertos públicos, no antigo Auditório Araujo Vianna, tendo no programa a Abertura 1812, de Tchaikovsky. Esses concertos ocorreram em dezembro de 1951, em 24 de janeiro de1954 e em 13 de fevereiro de 1955. O auditório estava situado na área hoje ocupada
pelo Palácio Farroupilha, sede da Assembleia Legislativa.
Com projeto arquitetônico, projeto estrutural e execução
pelo engenheiro italiano Armando Boni, radicado em Porto Alegre, o auditório
foi inaugurado em 19.11.1927. Tinha um palco com concha acústica de concreto
armado, à esquerda do Theatro São Pedro, e plateia com bancos de cimento que se
estendia na aclividade natural do terreno, cercada por pérgulas, até a Rua
Duque de Caxias. A platéia tinha capacidade para cerca de 1300 pessoas
sentadas.
Antigo Auditório Araujo Vianna, junto à Praça da Matriz. Na área à direita da concha acústica, foram instalados os canhões do CPOR/PA. |
O antigo Auditório Araujo Vianna esteve em atividade por 31
anos, sendo demolido em 1958, para dar lugar ao Palácio Farroupilha.
O concerto de 13.2.1955
O espetáculo musical foi noticiado pelo Correio do Povo, edição de 13.2.1955, em sua seção Notas de Arte, dando destaque para a Abertura 1812, para cuja execução a OSPA contou com o acréscimo de mais 20 músicos, da banda de música da Brigada Militar e de alunos do Curso de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre-CPOR/PA.
Correio do Povo, Porto Alegre, edição de domingo, 13 de fevereiro de 1955. |
O programa era composto por: Giuseppe Verdi: La Forza del Destino (Ouverture); Tchaikovsky: Suíte Quebra Nozes;
Franz von Supée: Cavalaria Ligeira; Oscar Lorenzo Fernandez: Batuque; e
Tchaikovsky: Abertura Solene 1812.
Abertura Solene 1812
A peça musical de encerramento, a Abertura Solene 1812, de Pyotr Ilitch Tchaikovsky, foi o grande destaque do concerto
A composição dessa obra orquestral foi encomendada a Tchaikovsky para a abertura da Exposição Universal de Artes, realizada em Moscou, em 1882, quando eram comemorados os 70 anos da derrota do grande exército de Napoleão, na invasão francesa à Rússia, em 1812.
A estrutura da obra se organiza na contraposição entre a inicial vitória francesa e a posterior reação russa. Contrapõe o tema de La Marseillaise, hino da Revolução Francesa, e fragmentos do folclore e temas religiosas russos. Finaliza pelo triunfo russo, representado por um diminueto do hino czarista Deus Salve o Czar, sinos e troar de canhões. Quando a peça é executada em ambientes fechados, o estrondear de canhões é produzido por tímbales.
A abertura da Exposição Universal de Artes coincidiu com a consagração da nova Catedral de Cristo Salvador, cujos sinos participaram do concerto de estreia. A catedral fora erigida para comemorar a vitória russa sobre o exército napoleônico, em 1812.
A Abertura Solene 1812 finalizou de forma emocionante o grande concerto da OSPA, naquele verão de 1955.
Artilheiros do CPOR
Para a execução da Abertura 1812, no concerto de 13 de fevereiro de 1955, houve a participação do Curso de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre – CPOR/PA. Eu era então aluno do 2º ano do Curso de Artilharia no CPOR/PA, cujo sistema era de Artilharia Montada, isto é, com condutores montados a cavalo e os canhões tracionados também por cavalos.
Pyotr Ilitch Tchaikovsky |
A abertura da Exposição Universal de Artes coincidiu com a consagração da nova Catedral de Cristo Salvador, cujos sinos participaram do concerto de estreia. A catedral fora erigida para comemorar a vitória russa sobre o exército napoleônico, em 1812.
A Abertura Solene 1812 finalizou de forma emocionante o grande concerto da OSPA, naquele verão de 1955.
Artilheiros do CPOR
Para a execução da Abertura 1812, no concerto de 13 de fevereiro de 1955, houve a participação do Curso de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre – CPOR/PA. Eu era então aluno do 2º ano do Curso de Artilharia no CPOR/PA, cujo sistema era de Artilharia Montada, isto é, com condutores montados a cavalo e os canhões tracionados também por cavalos.
Naquela tarde de domingo, nos deslocamos do CPOR/PA, Rua Correa
Lima, no Morro Santa Teresa, até o Auditório Araujo Vianna, ao lado do Theatro
São Pedro. Um percurso de cerca de 5 quilômetros, conduzindo uma bateria de
três canhões Krupp 75 mm e seus armões, tracionados por robustos e indóceis
cavalos da raça Percheron.
Instalamos os canhões em uma área entre a concha acústica do auditório e o teatro, junto a uma balaustrada.
No
concerto, o maestro Pablo Komlós conduzia a grande orquestra acrescida pelas
bandas militares. Um maestro
auxiliar ‘regia’ os canhões, com a partitura à frente, comandando cada tiro,
enquanto nós, atentos aos movimentos de sua batuta, dávamos os tiros. Apesar dessa atenção, um dos colegas detonou fora de tempo: o tiro saiu desafinado.
O final do concerto
foi vibrante. O grande público que lotava a plateia do Auditório Araujo Vianna, ao
troar dos canhões, com surpresa, levantou-se entre emocionado e assustado. Muitos pareciam
preocupados sobre o que seria atingido, já que os canhões estavam voltados para
a parte mais central da cidade. Evidentemente, eram tiros de festim, somente
pólvora, mas com estrondo igual ao do tiro real.
Em O Obus, periódico do Curso de Artilharia, produzido pelos colegas Raul Machado e Bernardo Kamergorodski, o concerto foi noticiado como parte principal do programa de acolhimento a uma caravana turística de cariocas e paulistas:
Em O Obus, periódico do Curso de Artilharia, produzido pelos colegas Raul Machado e Bernardo Kamergorodski, o concerto foi noticiado como parte principal do programa de acolhimento a uma caravana turística de cariocas e paulistas:
O Obus, edição nº 2, ano letivo 1954-55, pág. 9. |
O período contínuo, citado na notícia, referia-se aos meses de janeiro, fevereiro e julho, quando não tínhamos aulas na Universidade e nossas atividades no CPOR eram realizadas de segunda a sexta-feira, em dois turnos.
Assim como eu, meus colegas artilheiros Aluísio Saggin e Fernando Carlos Becker lembram-se muito bem de terem "tocado canhão" na OSPA, 60 anos atrás.
Para ouvir a Abertura Solene1812, de Tchaikovsky, acesse
https://www.youtube.com/watch?v=-BbT0E990IQ
Assim como eu, meus colegas artilheiros Aluísio Saggin e Fernando Carlos Becker lembram-se muito bem de terem "tocado canhão" na OSPA, 60 anos atrás.
Para ouvir a Abertura Solene1812, de Tchaikovsky, acesse
https://www.youtube.com/watch?v=-BbT0E990IQ
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Fontes:
Acervo pessoal.
Arquivo Histórico Municipal
de S. Maria - Correio do Povo, Porto
Alegre, edição de 13.2.1955.
Aluísio Bittencourt Saggin, Gravataí.
O Obus, ed. nº 2 do ano letivo de 1954-55 - acervo de Werner Bittelbrunn, Cachoeira do Sul.
O Obus, ed. nº 2 do ano letivo de 1954-55 - acervo de Werner Bittelbrunn, Cachoeira do Sul.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Abertura_1812
http://www.ospa.org.br/?page_id=981
http://en.wikipedia.org/wiki/Cathedral_of_Christ_the_Saviour
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