A
diretoria do Avenida Tênis Clube, eleita em 3.3.1934, sob a presidência de João Geiger Bonuma, em
sessão realizada em 18.5 de 1934, encarregou seu órgão oficial, o A.T.C., de organizar a eleição da nova
rainha do clube.
O Diario do Interior, jornal
santa-mariense que publicou várias notícias sobre o andamento da eleição da
primeira rainha, no ano anterior, nada noticiou até 24.7.1934, quando anunciou
o baile da coroação.
Apenas
o jornal A.T.C., em sua edição de
12.6.1934, comentou o invulgar entusiasmo gerado pela votação cuja primeira
apuração, no sábado anterior, 9 de junho, resultou na seguinte contagem: Elisa
Pereira, 45 votos; Amelia Pereira, 25 votos; Ivanisa Rocha, 15; Agueda
Brazzale, 10; Lucia Izaguirre, 5 e Clelia Nieves, 5 votos. A notícia concluiu advertindo
os eleitores ateceanos que a eleição seria
|
Elisa Pereira, a mais votada
no primeiro escrutínio. |
encerrada no seguinte dia 25,
segunda-feira, e que havia cédulas para votação à disposição na Livraria do
Globo. Essa livraria, na Primeira Quadra da Rua Dr. Bozano, onde hoje está o
Santa Maria Shopping, era dirigida por Cesar Millan, que exercia a direção
comercial do jornal A.T.C. Esse órgão
do clube não noticiou o resultado final que também não foi citado nas atas das
duas seguintes sessões de diretoria; a ata de 2 de julho apenas registrou que a
diretoria deliberou realizar a festa da coroação da nova rainha, no final do
mês.
Mas,
apesar da larga vantagem de Elisa, 16 dias antes do encerramento da votação,
Amélia Pereira foi eleita a segunda rainha do Avenida Tênis Clube.
Amelinha,
como era carinhosamente chamada por todos, foi destacada no jornal A.T.C., na edição citada, na coluna Galeria do A.T.C.
|
Jornal A.T.C. ano 1, nº 12 - ed. de 12.6.1934 - 1ª pág. |
As
iniciais L. I.. na assinatura do texto, eram, possivelmente, de Lucia Izaguir4re, companheira de tênis e de diretoria de Amelinha, que também foi votada para rainha. O poeta citado era Layette Edgar Poggi de Lemos Duarte, da Academia Pernanmbucana de Letras.
Amelinha
Amelia
Filizzola Pereira nasceu em 24.8.1915 em Jari, então distrito de Santo Ângelo.
Em 1928, Jari passaria a ser distrito do município de Tupanciretã, do qual se
emancipou, em 28.12.1995. Era filha do fazendeiro Affonso Pereira e de Romilda Filizzola Pereira.
Tinha 12 anos
quando, junto com seus pais e de suas seis irmãs, mudou-se para Santa Maria, em
fins de 1927.
Após completar 17
anos, Amelia associou-se ao Avenida Tênis Clube. Foi proposta pelo presidente
Alcides Roth e admitida na sessão de diretoria, em 3.9.1932.
Ela estava então
concluindo o curso de professora na Escola Complementar, que formava as
chamadas “alunas-mestras”. Entretanto,
a formatura somente foi realizada em 17 de junho de 1933, sábado, no salão do
Clube Comercial instalado no último andar da União dos Caixeiros Viajantes.
Esse adiamento foi, certamente, devido à Revolução Constitucionalista para
derrubar o Governo Provisório de Vargas, eclodida em São Paulo, em 32 de julho
de 1932, que se estendeu com guerrilhas no Rio Grande do Sul, onde terminou em
20 de setembro do mesmo ano.
Era uma jovem com
talentos musicais: cantava, tocava piano, acordeão e bandolim.
Na tarde de domingo de 2.4.33, quando foi jogado um torneio de duplas
masculinas, compareceram ao clube várias
jovens ateceanas, entre elas Amélia Filizzola Pereira que “a todos deliciou,
tocando piano”, segundo o cronista “Fundo”.
Em 3.3.1934,
realizou-se a assembleia geral para eleição da nova diretoria, no salão do
A.T.C., na Praça da República. Por aclamação, foi eleita a diretoria composta
por:
Presidente: João
Geiger Bonuma; vice-presidente: Lamartine Souza; 1º secretário: Alcyr Valfredo
Pimentel; 2ª secr. Lucia Izaguirre; 1º tesoureiro: Athos Lenz; 2ª tes.: Amelia
Pereira; diretor esportivo: Carlos Lang. Conselho Fiscal: Ennio Brenner, Ernesto
Lang e João da Costa Ribeiro.
Assim, a professora
Amelia Pereira, aos 18 anos de idade, um ano e meio após ter se associado ao
A.T.C., já integrava a diretoria do clube.
Na sessão de 4 de
junho, foram admitidos como sócios os aspirantes Odacyr Timm, Tito do Canto e
Nestor de Matos Brito, propostos por Amélia Pereira. Possivelmente nessa época
havia iniciado o namoro entre Amélia e Odacyr que, um ano depois, em 21.7.1935,
oficializaram o noivado.
Odacyr
Luiz Timm
|
Odacyr e Amelinha, na data do noivado: 21.7.1935 |
O noivo de Amelinha nasceu em Santa Maria, em 31 de
julho de 1912, filho de Álvaro Timm e Ernestina Lemes Timm. Era trineto de Hans
Heinrich Timm, que imigrou com esposa e cinco filhos na primeira leva de
alemães, chegados à Colônia Alemã de São Leopoldo, em 25 de julho de 1824.
Odacyr cursou a Escola Militar do Realengo, Rio de
Janeiro, e formou-se aspirante artilheiro, em 1932. Em sua cidade natal, serviu
no 5º Regimento de Artilharia Montada que, em 1950, recebeu a denominação
histórica de Regimento Mallet.
Em 1934, o aspirante Odacyr Timm, novo associado do Avenida
Tênis Clube, passou a praticar o esporte.
Tenistas
Era costume marcar o início das atividades tenísticas
com um programa de jogos, em um domingo de março. Era a “Abertura da
Temporada”.
|
Recorte da foto de um grupo de tenistas, na quadra do ATC, em 1934. |
Como preparação para a abertura de 1935, o diretor
esportivo, Ennio Brenner, organizou vários jogos de duplas no dia 17 de março.
A partida inicial foi disputada por Lamartine Sousa-Elisa Pereira contra Ennio
Brenner-Amélia Pereira. Ennio era o campeão do A.T.C. e Lamartine o anterior
campeão. O cronista que assinava “Rod.”,
ficou bem impressionado com o jogo das moças e escreveu, no
Diario do Interior, que “ficou
comprovado que, se as
tenniswomen do
Avenida cultivassem o elegante esporte da raqueta teriam uma ótima colocação
entre as poucas tenistas femininas do Estado.”
Entre 33 tenistas (29 homens e 4 mulheres), Odacyr e
Amelinha participaram dos jogos da abertura da temporada, em 24.3.1935.
O mesmo cronista registrou:
O que mais entusiasmou a direção do
simpático A.T.C. foi a atuação, digna de registro, das duas duplas femininas,
que se houveram com tal homogeneidade de jogo, que é difícil destacar qual a de
melhor performance. Elisa, Dinah, Amelinha e Clelia foram as figuras máximas da
tarde, razão por que lhes apresentamos as nossas felicitações.
Elisa Pereira e Dinah Schmidt venceram por 6x3, 3x6 e 6x4.
A dupla Odacyr Timm-Tito do Canto
venceu a dupla cap. Ruy Bello-ten. Alcides Bittencourt por 6x3 e 6x1. Segundo o cronista “Rod.”,
o tenente Tito fez jogadas arrebatadoras, na rede, confirmando que é um
bom artilheiro. O tenente Odacyr, calmamente, “desacatou” os seus adversários e
colegas, vencendo juntamente com o seu companheiro de armas.
O último jogo, disputado pelas duplas Ennio Brenner-Flavio Paz x Lamartine Souza-João C. Ribeiro foi, segundo a crônica esportiva, " a demonstração culminante, encerrando com chave de ouro o torneio inirium mais admirável que temos assistidos nas quadras do alviceleste. [...] Os quatro jogadores, até a noitinha, encantaram os apreciadores do lindo e difícil esporte" Ennio e seu jovem sobrinho venceram por 6x8, 6x3 e 7x5. Flavio Paz, 17 anos, era chamado o "menino de ouro" do ATC.
Várias empresas doaram prêmios aos vencedores, que estiveram em exposição na vitrina da Casa Herrmann, na Primeira Quadra da Rua Dr. Bozano, onde hoje está a Joalharia e Ótica Gaiger.
Um toldo foi montado para maior conforto dos torcedores aos quais foram servidos sanduíches, chope e outras bebidas, enquanto a banda de música do 7º Regimento de Infantaria animava a tarde esportiva.
A abertura da temporada entusiasmou os ateceanos e a crônica esportiva que publicou:
À diretoria do Avenida Tênis Clube, especialmente ao seu esforçado diretor esportivo Sr. Ennio Brenner, damos parabéns pela satisfação que nos proporcionou a sua tarde desportiva de domingo.
E na sessão de diretoria, em 28.3.1935, devido ao grande êxito na abertura da temporada, foi consignado em ata um voto de louvor ao diretor esportivo Ennio Brenner.
|
Publicado no Diario do Interior, sábado, 28.7.1834, 1ª pág. O secr. Alcyr Valfredo
Pimentel era paranaense e viera trabalhar na cooperativa dos ferroviários. Seu filho
Roberto Valfredo Pimentel, o conhecido Tatata Pimentel, nasceu em S. Maria, em 1938. |
O Baile da
Rainha
Na edição de 28.7.1934, sábado, o cronista do tênis
que assinava “G” descreveu no Diario do
Interior noticiou, com riqueza de detalhes, a grande festa social que se
realizaria à noite.
Seria uma festa imponente no “magnífico salão do Clube
Comercial,” ricamente iluminado, onde haveria “a elegância dos pares, a
alegria, a beleza dos toaletes das mais encantadoras jovens.”
O Clube Comercial ocupava o último pavimento do
Edifício João Fontoura Borges da União dos Caixeiros Viajantes. No espaço do
citado salão, estão hoje os setores administrativos do gabinete do prefeito
municipal.
O cronista citou a comissão de ornamentação, composta
por Chiquinha Souza, Naná Bonuma e Lila Lenz, que estava “envidando todos os
esforços para maior realce da festa”. E
descreveu que a rainha Norma Seibel, introduzida por João Appel Lenz e Adolpho
Bastide, se encontraria no salão com a rainha eleita Amélia Pereira,
acompanhada pelo presidente João Bonuma e por Lamartine Souza. O ato seria
abrilhantado pelo hino do A.T.C. cantado por Clelia Filizzola e Dora Jornada,
quando Amélia Pereira seria conduzida, com seu séquito de pajens, aias, garçons e demoiselles d’honeur, ao trono, para a solene coroação.
|
Amelia Pereira recém-coroada. à esq.: Carlos Lang, Lamartine Souza, Eurico Nerva e
Norma Seibel (rainha anterior). À dir.: Lucia Izaguirre, João Bonuma e Alcyr Pimentel.
foto: Sioma Breitman/Casa Aurora |
Logo após, com início previsto para a 22h30min,
haveria o brilhante “Baile da Rainha”.
As edições seguintes do Diario do Interior nada comentaram sobre a festa, e nas atas do
A.T.C. há apenas uma citação referente a um ofício de agradecimento ao Clube
Comercial pela cedência do salão.
Tesoureira
Atuando como 2ª tesoureira, desde março de 1934,
Amelinha tornou-se 1ª tesoureira, na diretoria aclamada na assembleia geral
extraordinária de 28 de dezembro do mesmo ano. Uma diretoria de curto mandato,
composta para preencher cargos vagos: além de outros demissionários, o
presidente João Bonuma, que era juiz distrital, renunciara devido à sua
transferência para Porto Alegre, onde iria lecionar na Faculdade de Direito.
Em março do ano seguinte, Amelinha apresentou o
balancete da tesouraria à assembleia geral que aclamou nova diretoria.
=====================
Odacyr e Amelinha casaram em 30 de janeiro de 1936, na
Catedral de Santa Maria. Residiram, por
cerca de três anos na cidade, onde nasceram seus dois primeiros filhos: Maria
de Lourdes, em 4.2.1937, e Odacyr Luiz Junior, em 20.8.1938. Em razão da
carreira militar, viveram em Pouso Alegre/MG, Realengo/RJ, Ijuí/RS e novamente em Santa Maria, onde o
então major Odacyr Timm cursou a Faculdade de Farmácia de Santa Maria, na época
agregada à URGS. Formou-se farmacêutico em dezembro de 1952 e, ao passar para a
reserva, como general de brigada, em 1962, dedicou-se plenamente á Farmácia. Entre
outras funções, foi conselheiro
e secretário-geral do Conselho Regional de Farmácia/RS e assessor itinerante de
todos os conselhos regionais, pelo Conselho Federal de Farmácia.
_______________________________________
Fontes:
Acervo fotográfico de Maria de
Lourdes Pereira Timm.
Arquivo pessoal.
Arquivo Histórico Munic. de S.
Maria – Hemeroteca: Diario do Interior,
edições de 19.3.35 e 26.3.1935.
Conselho Regional de Farmácia/RS.
Gazeta da Farmácia, RJ - ed. Abril de 1975.
Livro de atas nº 1 do Avenida
Tênis Clube.
Timm, Maria de Lourdes Pereira. Hans Heinrich Timm (trab. genealógico
n.p.)