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Ele
nasceu em 13 de junho de 1862, primogênito do imigrante alemão Franz Karl
Brenner, aqui chamado Carlos Brenner, e da santa-mariense Christiana
Hofmeister, filha de Mathias Hofmeister, também imigrante alemão.
Tendo
nascido no Dia de Santo Antonio, seus pais quiseram chamá-lo de Ildefonso
Antonio, como se lê na anotação que o pai, Carlos, escreveu na folha de guarda
de sua Bíblia luterana que recebera quando de sua confirmação na terra natal,
Ellweiler, em 20.11.1845:
Ildefons Antonio Brenner geboren den 13 Junio 1862
Franz Karl escreveu "Junio" misturando o Juni alemão com o junho português.
Nas religiões cristãs, a Confirmação é o rito que complementa o Batismo, transformando as pessoas em membros plenos da comunidade, permitindo-lhes a participação na Eucaristia.
A data do
nascimento consta no registro de batismo, em 24 de setembro do mesmo ano, feito
pelo Padre Antonio Gomes Coelho do Valle, que omitiu o prenome Antonio. Filho
de pai luterano e de mãe católica, Ildefonso foi batizado católico, até mesmo
porque a Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria só seria fundada quatro
anos depois.
A boa situação
financeira de Carlos Brenner (Franz Karl
Brenner, meu bisavô imigrante),
obtida por seu trabalho, permitiu-lhe investir na educação dos filhos. Assim
como as famílias luso-brasileiras abastadas, nas províncias, mandavam os filhos
estudarem no Rio de Janeiro, na "Corte", como diziam, Carlos Brenner
enviou seu primogênito, o jovem Ildefonso, para completar sua educação na
Alemanha.
Carlos Brenner havia prosperado inicialmente
com sua alfaiataria depois como comerciante, em Santa Maria. Era natural que
ele desejasse que seu primogênito seguisse sua profissão. Carlos aprendera seu
ofício de alfaiate em Porto Alegre, poucos anos após ter imigrado, ainda
adolescente, mas ele queria para Ildefonso a melhor formação de que tinha
notícia. Certamente, no decorrer de sua formação e de sua atividade profissional,
ele tomara conhecimento da Academia Europeia de Moda, em Dresden. Essa escola
técnica fora fundada em 1850, como Deutsche
Akademie der Höheren Bekleidungskunst, Academia Alemã de Alta-Costura
tornando-se, mais tarde, a famosa Europäischen
Moden-Akademie, Academia Europeia de Moda. Os alunos aprendiam
contabilidade, aritmética, letras, estilística, idiomas etc. e, principalmente,
método de corte e feitio. Passavam por um treinamento técnico e científico para
poder mais tarde alcançar a liderança de um negócio maior.
A
Academia havia diplomados alunos da Alemanha, Suíça, Polônia, Rússia, Suécia,
Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica e França.
Em 1893, a
Academia recebeu Medalha de Ouro na Feira Mundial de Chicago.
O jovem Ildefonso, com idade de 20 a 23 anos, permaneceu em
Dresden, durante cerca de quatro anos, provavelmente entre 1880 e 1884. Formado
em alfaiataria, voltou à sua cidade natal, mas nunca exerceu a profissão de seu
pai. Entretanto, sua formação europeia e seu treinamento para assumir liderança
foi útil para suas posições em Santa Maria.
Entre as referências materiais do período em que Ildefonso
esteve na Alemanha, há um livro de Schiller, adquirido em Dresden, em 30 de
março de 1884, conforme ele anotou na folha de guatda, sob sua assinatura. O
livro é o nono volume de
Schillers
Sämtliche Werke (Obras Completas de Schiller), contendo pequenos trabalhos
sobre História e algumas obras póstumas para teatro.
Ildefonso tinha então 21 anos de
idade. Dresden, chamada a “Florença do Elba”, era um importante centro de
cultura da Europa, considerada uma das mais belas cidades do mundo. Sem alvos
militares, desafortunadamente, foi a mais castigada pelos bombardeios
norte-americanos e britânicos na Segunda Guerra, que atingiram cruel e
extensamente a população civil, matando cerca de 25.000 pessoas. Nos bombardeios de 1945, foram destruídos 39 quilômetros quadrados do centro de Dresden.
Com a esperança de encontrar
algum registro da passagem de meu avô pela Akademie,
escrevi a instituições culturais de Dresden e recebi, em 20.3.2002, uma
atenciosa mensagem de Heidrum Reim, historiadora do Dresdner Stadtmuseum. Frau
Reim informou-me que edifício da Europäischen
Moden-Akademie ficava em Dresden-Neustadt, na Nordstrasse, N. 20. Nos bombardeios à noite de 13 para 14 de
fevereiro de 1945 foi destruído o edifício da Akademie com seu valioso Departamento de Biblioteca (Fachbibliothek) e a coleção de recursos
pedagógicos.
Neustadt é um bairro central de
Dresden, na margem direita do Rio Elbe. Apesar do nome (Neustadt é Cidade Nova), é a parte mais antiga da cidade, que se
estende em maior área na margem esquerda, com antigos e novos bairros.
A estada na pátria de seu pai
possibilitou a Ildefonso aprimorar sua cultura e o conhecimento do idioma
alemão: ele falava fluentemente o Hochdeutsch
e citava Goethe de memória. Era considerado o homem culto da família. Hochdeutsch, é a denominação da variante oficial do idioma alemão, utilizada nas escolas, empresas e na mídia impressa.
Deve ter sido, também, um período
muito prazeroso, cujas lembranças o acompanharam por toda a vida. Lembro-me de
tê-lo visto, várias vezes, na avançada idade de seus oitenta e poucos anos – eu
então um menino de oito a dez anos –, certamente rememorando sua juventude em
Dresden, ao benfazejo sol de inverno, que produzia profunda insolação na sala,
onde hoje é a loja nº 1061, na Rua Dr. Bozano. Em sua cadeira de balanço, de costas
para a sacada, entoava baixinho a valsa “Ja,
dann woll’n wir noch einmal, woll’n wir noch einmal, Heirassassa, lustig sein,
fröhlich sein Hopsassa.”, e outras canções alemãs.
De
1881 a 1884, Ildefonso viveu em Dresden, chamada a “Florença do Elba” devido ao
seu notável desenvolvimento cultural e artístico. O jovem de vinte e poucos anos aprimorou sua formação cultural.
Apesar de sua formação em Dresden, Ildefonso não exerceu a profissão de seu pai. Como dizia minha avó Lydia, "ele jamais pegou uma tesoura de alfaiate." Mas seu treinamento na Europäischen Moden-Akademie o levou a posições de liderança.
Comerciante - Voltando da Europa, chegou a Santa Maria em junho de 1884. Assumiu a empresa de seu pai ou abriu sua casa comercial Brenner & Irmão que, em 1902,
passou a ser Ildefonso Brenner & Cia., no sobrado da família, situado na
esquina noroeste das ruas Dr. Bozano e Serafim Vallandro (foto acima).
Na fachada do sobrado, a denominação da empresa, em foto de 1908.